NA ESTEIRA DA VIDA

Na esteira de restituição de bagagens do Aeroporto de Goiânia desfilava um livro, que por algum descuido havia caído da mala de alguém.

Ele caminhava perdido, olhando por todos os lados, esperando ser resgatado, acolhido, ser ouvido, entendido, ele tinha tanta coisa pra falar... Mas a multidão ignorava o pedido de socorro e apenas olhavam por cima dos ombros.

Todo o meu ser foi preenchido por empatia pelo livro, eu sabia como ele se sentia porque já estive exatamente naquela posição quando precisei ser ouvida, quando busquei por alguém que pudesse ouvir minhas dores, desabafar e explicar o motivo do meu sumiço, da minha introspecção, do meu isolamento, minha penumbra, meu lado negro, minha escuridão. E a única coisa que consegui foi chegar ao fundo do poço e me sentir ainda pior, uma pessoa desprezível, indigna de afeto e atenção... fui completamente ignorada, tornei-me invisível para àqueles que um dia tanto admirei. E todas aquelas palavras ficaram enclausuradas em mim, não foi lido e nem ouvido por ninguém, iguais às do livro. Talvez um dia eu as liberte.

Assim somos no dia a dia e nem nos damos conta. Temos o poder de melhorar o dia de alguém, mas não olhamos quem está à nossa volta. A gente não se importa na maioria das vezes. Cada pessoa é um livro cheio de histórias para contar à espera de um leitor ávido que a compreenda.

Adenize Cardoso
Enviado por Adenize Cardoso em 30/05/2022
Reeditado em 20/06/2022
Código do texto: T7526923
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