Aquela praça ainda existe…
… E é quase a mesma que alimentou meus sonhos juvenis, que me ensinou sobre o valor das amizades. Foi nela que aprendi a filtrar conversas, trocar ideias, rir das bobagens ditas, e ouvidas, e chorar de decepção sentada em seus bancos.
Recentemente, voltei a minha cidade de origem – Portalegre/RN, parei em frente a praça central e lembrei-me das voltas que dei ao seu redor, com as amigas e as fantasias.
Final dos anos sessenta, eu ainda uma menina-moça, mas me era permitido ir passear na praça até o horário pré-determinado pelos país – o primeiro sinal da luz, que era movida por um gerador (só no início da década de 70 que a energia de Paulo Afonso chegou à cidade).
Pois bem, todos que frequentavam a praça se conheciam e se cumprimentavam; paravam para conversar sobre o cotidiano de uma cidadezinha com poucos atrativos, mas pulsante entre seus moradores.
Era naquela praça que convergiam as ideias para as organizações das tradicionais festas da Igreja: em maio as novenas e coroação de Nossa Senhora de Fátima e, em dezembro, a festa da padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Um detalhe: a Matriz ficava em frente à praça onde os jovens se dirigiam para lá depois das novenas. Já no mês de junho era realizada uma grande quadrilha, sendo que os ensaios começavam em abril, no mercado municipal, que fica ao lado da praça, onde os casais dançarinos eram formados, após escolhas, e umas causavam ciumeiras.
A arquitetura da praça mudou, mas não a magia que ela causa em cada uma daquelas pessoas que passearam por ela, namoraram nos seus bancos e ouviam as músicas vindas de um alto-falante instalado no topo do bar de Dadá Diógenes, que se situava entre a Igreja e a praça. E eram divertidas as surpresas e curiosidades causadas pelas mensagens musicais.
Durante o dia ela ficava um pouco vazia, exceto o bar, que ainda existe, instalado em um simpático prédio, no centro da praça, onde os adultos tomavam seus drinks e papeavam sobre os acontecimentos da cidade. Pouco se sabia sobre o que acontecia no Brasil e no mundo, apenas algumas notícias oficiais transmitidas pelas ondas do rádio, na A Voz do Brasil.
A evolução dos processos produtivos tem provocado mudanças climáticas e o tempo tem valor, a praça também evoluiu, ganhou um relógio que informa a hora e a temperatura.
Ali fiquei a refletir sobre os meios de comunicação social que mudaram a rotina dos frequentadores das praças, não apenas em Portalegre; mesmo assim, com gente ou vazia, com o sem coreto, mas geralmente arborizadas, ainda vejo um quê de beleza nelas, mesmo que os hábitos tenham modificados seus fins de uso.
As boas lembranças deixam marcas que nem a evolução nem o tempo apagam.
Iêda Chaves Freitas
29.05.2022