🔵 Livros, café e rock and roll 🔵
Depois de ver (e ouvir) os últimos lançamentos de CD’s e alguns mais antigos, nada mais óbvio que fazer a mesma coisa com os livros. Tratando-se de uma livraria, era tudo o que eu poderia fazer, certo? Errado.
Feito o “upgrade” musical e literário, alimentando o espírito, era hora de alimentar o corpo. Pedi um salgado e um café no Fran’s Café da FNAC da Avenida Paulista. Encontrei uma mesa vaga. Sorte, para um sábado. Coloquei o diminuto, embora caro, café da tarde na mesinha e sentei.
Os “roadies” “plugaram” os amplificadores e retornos, afinaram a guitarra e o baixo, ajeitaram os microfones e a bateria, pronto. Era só a banda entrar e tocar. O “pocket show” do ‘Doctor Sin’ compensaria o caro desjejum, dando até uma boa vantagem no custo-benefício.
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São Paulo, 16 de janeiro de 1993, estádio do Morumbi. O Dr. Sin subiria ao palco, naquele inesquecível Hollywood Rock, antes das bandas Engenheiros do Hawaii, L7 e Nirvana, respectivamente. Todas as apresentações foram OK, mas o Nirvana, no auge, foi uma porcaria. Diz a lenda que João Gordo (Ratos de Porão) falou pro “consciente” Kurt Cobain (vocalista e guitarrista do Nirvana) que ele tocaria num festival patrocinado por uma marca de cigarros. Sabendo disso, ele avacalhou o show. Uma banda cover teria tocado bem melhor. Tocar num evento financiado pela indústria tabagista, com absoluta e comprovada certeza, era o menor dos problemas para Kurt. Foi uma inicial, visionária e clara sinalização hipócrita de virtude.
A melhor performance foi do “power” trio Andria Busic, Eduardo Ardanuy e Ivan Busic, o Dr. Sin. Dessa vez, eu não enfrentei longas filas, mega lotação, as dificuldades de permanecer em pé e a distância do palco. Assistiria ao show de maneira corriqueira, apenas comendo algo numa lanchonete, não sentado numa cafeteria.
Pouco mais de um ano depois, Kurt Cobain (líder do Nirvana) estourou os miolos. A banda entrou para a história. Livros e documentários foram lançados. O mundo até ficou politicamente correto como o suicida Kurt. No show do Nirvana, mesmo que avacalhado, quem foi, foi.
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Anos depois, eu estava assistindo ao show da mesma banda do Hollywood Rock, só que tomando um café da tarde numa cafeteria de livraria. Foi um sinal de que a idade estava se impondo.