Século XVIII, Cachaça e Cia
Falar do século XVIII é prosa pra mais de horas. Para não cansar o leitor e a leitora, dividi a crônica em dois assuntos: a Inconfidência Mineira e a cachaça. Temas que se encaixachaçam perfeitamente.
Os inconformados inconfidentes não queriam papo com a Coroa Portuguesa. Chegara a hora da ruptura. Para que isso acontecesse, precisavam se organizar. Planejamento exige conversa e conversa precisa de pessoas. Nesse caso, dispostos à luta. Ah, precisavam, também, de um local seguro. Um desses locais foi a Fazenda do Pombal, localizado em Ritápolis, à beira do Rio das Mortes, na região de São João del Rei, Tiradentes e Coroas, que tempos depois, com a emancipação, passaria a se chamar de Coronel Xavier Chaves.
O líder desse movimento separatista era o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido por Tiradentes. Assim como Tiradentes, seus companheiros, não eram de ferro. Durante as reuniões conspiratórias, para acalmar ou exaltar os ânimos, tomavam umas biritas. Consta que a cachaça vinha do Engenho de Coroas, à beira do Ribeirão Mosquito. Mas isso o narrador não garante. Vai que é fake. Fica a dúvida.
De qualquer forma, a Coroa Portuguesa, também não queria conversa. Tratou logo de dar cabo ao movimento. Prendeu todos os envolvidos, e para provar que não estava de brincadeira, enforcou Tiradentes no dia 21 de abril de 1792. Por tudo isso, o século XVIII é um marco importante em nossa história.
Quanto ao Engenho, não há dúvidas, continua em funcionamento e é o mais antigo do Brasil, quiçá do mundo. É patrimônio histórico de Coronel Xavier Chaves, nas Minas Gerais, no coração do Vale das Vertentes, produzindo as famosas cachaças Século XVIII e Santo Grau, sob o comando do Mestre Nando Chaves, descendente da oitava geração de Antônia Rita da Encarnação Xavier, irmã mais nova de Tiradentes.
E como bom fabricante das premiadas cachaças, o Nando conta: "Lá pelo ano 2000, um repórter da revista Play Boy escrevia uma matéria sobre as cachaças produzidas em Minas. Como somos referência no ramo, o repórter veio conhecer a nossa esquenta peito. Conversa vai, conversa vem, meu pai (Seu Rubinho), interrompeu a prosa, para que o repórter provasse da branquinha. O tal repórter, cujo nome não me lembro, com cara de espanto exclamou: - Nas minha pelejas como repórter, só tenho encontrado a cachaça amarela, a sua é branca! Meu pai respondeu na lata: - Uai, minha cachaça é branca, porque não tem vergonha de ser cachaça. Todos caíram na gargalhada.
Em seguida, Seu Rubinho oferece um trago da xodó do Engenho, a Século XVIII, do rótulo vermelho. Enquanto degustam, num brinde fraterno, Nando completa: - Cachorro que não morde, pimenta que não arde, cachaça que não é forte, não resolve.