CONFUSÃO GENEALÓGICA

Meu pai aproximava-se dos 30 anos e pra sua geração dos anos 30 já estava beirando a condição de solteirão. Nesse tempo empreendeu com sua irmã Wanda uma viagem à Ilicínea para rever o Avô Aureliano. Viagem longa para os meios de transporte da época. Vovô Lili como era carinhosamente chamado morava com a família de seu filho Geraldo, meu avô materno.

Ali viu minha mãe pela terceira vez em toda sua vida. Viu-a menina com 5 anos na roça dos Bititas e depois mocinha aos 16 anos no casamento de sua irmã mais velha Albertina. Mas foi nessa ocasião da visita ao bisavô, a primeira vez que a notou como moça casadoira. Encantando bastou mais dois encontros até o casamento em 1961. Não é preciso muita lógica pra perceber que os dois são primos. Aureliano era avô comum dos dois e meu bisavô materno e paterno.

Anos mais tarde, na idade da razão, se é que ela existe, tomei conhecimento dessa união familiar. Descobri que meu pai e minha mãe eram primos de primeiro grau. Pra cabeça de um menino soava estranho a princípio. Mas fui descobrindo que era uma prática comum em muitas famílias.

Acostumado com a ideia passei a fase de ficar pensando e fazendo alguns raciocínios da logica familiar na qual estava inserido. Todos os primos de meu pai eram por tabela meus primos, um grau acima. Seu primo primeiro Geraldo, que também foi seu padrinho de casamento, era por consequência meu primo em segundo grau. Nessa sequência, sendo meu pai primo de minha mãe, minha mãe se tornava, além de mãe, minha prima também. De segundo grau é claro. Peraí, pensei..., mas se meu pai é primo de primeiro grau da minha mãe, então ele também é meu primo. Logo eu tinha pais e primos nas mesmas pessoas. Ual!!! pensava eu. Nossos laços são mesmo fortes.

Fui contar a novidade ao primeiro irmão que encontrei em casa. Satisfeito e empolgado com a descoberta falei ao Gabriel. Sabia que nossos pais são também nossos primos? Expliquei-lhe a lógica de meu pensamento. Mas peraí !!! Você sendo filho do meu pai e minha mãe que são meus primos, você também, além de irmão é meu primo. De terceiro grau, concluí. Fantástico!, conclui empolgado: _ Tenho irmãos primos!

Nisso Tia Wanda que morava em nossa casa chegou na cozinha onde eu e Gabriel elucubrávamos sobre a genealogia com dupla representatividade. Olhando para Tia Wanda veio-me um novo insight. Com uma mão no queixo e outra apontando para tia sentenciei:

_Nossa! A Senhora é prima da minha mãe!!!

_ Sou respondeu sem pestanejar.

_ Então a senhora, além de tia é também minha prima.

_ Sim, mas sou primeiro tia, respondeu a Coruja da irmã do meu pai.

Passei o resto do dia matutando. Como pode né?! Engraçado essas questões. Aí fui puxando a parentada dupla.

Se os pais de meus primos, que são meus tios, são primos do meu pai no caso dos tios maternos e primos da minha mãe no caso dos tios paternos, eles são todos meus tios primos de segundo grau. Logo, seus filhos são meus primos duas vezes, de primeiro e terceiro grau.

Pra equação familiar ficar ainda mais desafiadora fui o último neto dos meus avós paternos Zeca e Maria Amélia que era irmã do meu avô Geraldo, ambos filhos do bisavô Aureliano. Ser o neto mais novo fez com que minha infância fosse conjugada com a infância dos filhos dos meus primos de primeiro grau, que também são de terceiro grau. Logo brinquei com meus primos segundo que também eram quarto. Mas há quem diga que primo de quarto grau não é mais primo, só parente. Ufa!!! Isso pode ser bom pois facilita a equação.

Helena, minha filha está com 5 anos. Quer saber das coisas. Pergunta e argumenta sobre tudo. Aqui pensando com meus botões. Se um dia puxar esse assunto, haja neurônio pra explicar que seus avós eram primos e que por consequência também se tornam primos dela, além de avós. Assim como os tios e o próprio pai... Eita!

Que bom que depois de terceiro grau é só parente, e haja parentada!

Gleisson Melo
Enviado por Gleisson Melo em 28/05/2022
Código do texto: T7525930
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.