AFIADOR DE FACAS

AFIADOR DE FACAS

Na cozinha, ponho-me a cortar um tomate com uma faca sem fio, ninguém merece. Já ia trocar de faca, quando ouço vindo da rua um som de gaita. Pensei, não é possível, devo estar ficando maluco, mas qual o que, de novo a gaitinha soa. Saio à porta, embasbacado esfrego os olhos, não acredito, um amolador de facas, surgido sei lá d’onde, após tantos anos. Digo “ BOM DIA”, o senhor amola facas? ( pergunta mais besta ); ele logo responde, óbvio, além de facas, tesouras, alicates de unha e também mato saudades. Conquistou-me, lá vou eu pegar umas facas e uma tesoura para, obviamente, afiar. Entrego-as e fico apreciando, ou melhor, curtindo, ele a pedalar a bicicleta erguida, afiando as facas e a tesoura na pedra que gira ao prazer de suas pedaladas. Findo o serviço, pago-o com prazer e lá vai ele ao som de sua gaitinha que se afasta. As facas ficaram ótimas, volto a picar tomates, agora com qualidade. Agora, bom mesmo, foi ouvir a gaitinha e voltar no tempo, lembrando quando esse som afiava meu canivete, que não cortava tomates mas descascava muitas laranjas colhidas no pé.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 27/05/2022
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