A VASTA IGNORÂNCIA HUMANA.

Somos anões em tudo, e quase ninguém percebe. Uma fragilidade gigante, em força de nada distinguir, valha o contraponto semântico.

"Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos.”

Proclama o livro sagrado, “Quem pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura do céu, a extensão da terra, a profundidade do abismo?”

E remata à maravilha: “Quem pode penetrar a sabedoria divina, anterior a tudo?”

Essa estatura anã, praticamente inexistente qualquer altura, contrapõe a grandiosidade do predicado conseguido, a vida assistida em inteligência, maior ou menor, mais ou menos intensa. Essa concessão para quê? Para penetrar no vestíbulo do “de onde viemos para onde vamos?” e entender um pouco desse sabor doce de “ser vida” que tem o toque da fugacidade, para compreender que há um outro espaço que será um dia desvendado. . ..vida eterna, onde repousa a verdadeira paz, sem ameaças e sofrimentos. Em vão as mensagens do Criador por pósteras criaturas mensageiras, sagradas!

Daí a perda da paz dessa criação que foi ingrata com o Criador em qualquer grau de inteligência.

“A sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos! O Verbo de Deus nos céus é fonte de sabedoria, seus caminhos são os mandamentos eternos. A quem foi revelada a raiz da sabedoria? Quem pode discernir os seus artifícios? A quem foi mostrada e revelada a ciência da sabedoria? Quem pode compreender a multiplicidade de seus caminhos? “ O temor do Senhor é a coroa da sabedoria: dá uma plenitude de paz e de frutos de salvação.”

Excertos do Eclesiástico.

Temor em consciência para que não se faça mal ao próximo; assim deve ser lido.

Inteligência, religião pessoal e ciência se acham nos tesouros da sabedoria, sabedoria repelida pelos pecadores.

Respeitar o Senhor, sua Lei Moral, expulsar o pecado do "caput", quem assim não procede não poderá tornar-se justo.

Sócrates pretendeu mostrar ao homem sua vastíssima ignorância e que o curto tempo em que permaneceria sobre a terra não permitiria erradicar a mesma.

E das alturas dessa sabedoria acumulada que sabia ser pouca ou quase nada, nenhuma praticamente, declinou:

“Sei que nada sei”.

Esse nada sei socrático, dito na época helênica, é o “tudo sei” por proclamar nada saber que atravessa os tempos ensinando aos pretensiosos o pouco a que chegamos sempre.

Assim resumiu o filósofo o primeiro passo de quem se entrega ao estudo ininterrupto, reconhecer sua ignorância, mesmo que passe a vida inteira estudando.

Quando nos apossamos dessa consciência de nossa infinita ignorância - muitos ao largo da verdadeira ESSÊNCIA, DEUS - passamos ao outro passo, o do autoconhecimento.

O mestre que nos chegou por seus alunos, Sócrates, reportado principalmente por Platão, já que nada escreveu, traça o método da maiuéutica, ou seja, trazer a luz ao que fosse sombra interior, processo interrogativo que abordei em alguns espaços.

Ninguém pode conhecer a si mesmo através de terceiro, óbvio. Assim, Sócrates ensinou o método para abrir esse indispensável conhecimento, digamos, o primeiro para sairmos da completa ignorância.

Mestres ensinam, entregam chaves, nesse caso as chaves com as quais vamos abrir a porta do nosso próprio interior; isso é vital para sair um pouco das trevas para a luz.

Nascemos e habitamos locais difusos onde os contornos apurados não são visíveis, nada é muito claro, tateamos sem saber para onde vamos com segurança ou o que podemos encontrar, e podemos estar, sem sentir ou pressentir, próximo a um abismo.

Um Leonardo Da Vinci, de múltiplos saberes, morreu sem nada saber sobre o que se saberia depois, ainda que previsse o avião, praticamente desenhando-o, ou o submarino, sendo um artista plástico de inúmeras facetas além de cientista.

Um Levy Strauss, morto recentemente, como antropólogo vanguardista e gênio fora de época em sua ciência, era assim, em sua área. E disse que a barbárie estava presente em algumas nações como no Brasil, e talvez não conheceríamos a civilização. Para mim não errou. Um cidadão brasileiro pode votar aos dezesseis anos, e não responde por crimes definidos pelos mesmos legisladores que escolheu pelo voto. Ausente responsabilização para responsável, isenção de culpa etiológica, sem causa eficiente, binômio direito/dever fulminado.

Da mesma forma tantos outros cérebros de nomeada, , Norberto Bobbio, o inigualável Kant e somadas personalidades.

Eles, contudo, por terem chegado onde chegaram, dando o segundo passo, obtiveram luzes maiores, não o domínio do saber, o que nunca ninguém terá.

Nunca foram operários do mal para ninguém ou coletividades, buscaram o saber um pouco mais para melhorar a humanidade.

Ainda assim, com essa evidência no cenáculo humano que traz a certeza, nada saber - muitos se pretendem sabidos, consabidos e sábios quando sequer conhecem “possibilidades matemáticas”, "equações diferenciais", "fracionamento da matéria por aceleração" ou mesmo o que seja forma em filosofia, ou logos simplistas.

Tomar consciência de nossas limitações é importante para fugir do processo de egolatria primeiramente, e começar a subir na escala de apossamento de um grão de areia nessa enormíssima praia do conhecimento.

É preciso se afastar dessa monumental insciência através da busca da gnose mínima para termos uma vida melhor.

Lutar por essa conquista é estar perto do Senhor, verdadeiramente, e de sua Santa Mãe, a Virgem Maria.