SOBRE O AI-5
Nota de entrada: Elaborei o texto abaixo no início do ano de 2019. Relutei muito em publicá-lo, mas entendo que é preciso
conhecer a história politica do nosso país, independentemente de posição ideológica ou partidária , ou ser da esquerda ou da direita,
Estudante de Comunicação em finais dos anos de 1970, tive o desprazer de ter não apenas um texto proibido numa aula de redação publicitária, como fui obrigado a esclarecer para o reitor o verdadeiro propósito do seu conteúdo. Trata-se de um anúncio de sabão em pó, um inofensivo exercício solicitado pelo professor. Se isso ocorreu com um estudante, imagine, então, o que acontecia com os profissionais. Vivíamos sob as regras da ditadura militar.
Por ter sido um fato marcante em minha vida acadêmica, ainda o tenho na memória praticamente na íntegra. Vale destacar que, à época, muito pouco e falava sobre meio ambiente.
A estrutura dele era a seguinte:
Tema: Produto Gigante — Lançamento
Diferencial/Característica principal: sabão em pó biodegradável
Mídia: Impressa — Revista
Título: GIGANTE PELA PRÓPRIA NATUREZA (1)
Elimina germes e bactérias sem deixar manchas (2)
Texto:
“Quem foi que disse que roupa suja não se lava em casa. Chegou o primeiro sabão em pó biodegradável para acabar com o inimigo invisível (3) do seu lar — as bactérias.
Gigante é um grande aliado da dona de casa na tarefa de lavar roupas.
Na máquina ou no tanque, Gigante age sem deixar vestígios. (4)
Produzido com os mais modernos ingredientes químicos já desenvolvidos.
Gigante limpa sem agredir o meio ambiente. Suas roupas mais limpas e perfumadas, prontas para desfilar em qualquer parada. (5)
GIGANTE — Na máquina ou no tanque, lava num instante”
Vejam as ressalvas feitas pelo reitor:
Legendas:
(1) frase extraída do Hino Nacional brasileiro
(2) ato premeditado
(3) alusão aos comunistas
(4) ato premeditado
(5) paradas ou desfiles eram de competência das Forças Armadas
Nota: Acredito que a única frase politicamente incorreta – ao menos para os dias de hoje -– foi: “... grande aliado da dona de casa na tarefa de lavar roupas”. Extremamente machista para os tempos atuais.
Recorri ao texto para contextualizar o que tenho visto ocorrer nas redes sociais. Não costumo publicar minha opinião política ou religiosa nesses meios. Não que não tenha posição firme sobre ambos os assuntos, mas, antes de tudo, respeito a individualidade das pessoas. Porém, após visualizar tantas manifestações favoráveis à volta do regime militar e perceber a falta de informação de algumas pessoas, resolvi quebrar a regra.
Não procuro criar polêmicas. Todavia, sobre política – permita-me sugerir – seria interessante que pesquisassem sobre a ditadura militar implantada no país (1 de abril de 1964 a 15 de março de 1985). Tomem ciência do que representaram os AIs (17 Atos Institucionais, regulamentados por 104 atos complementares), em especial o AI-5.
É apenas para ilustrar o grau do risco que corríamos, que cito o que ocorreu comigo. É preciso ter discernimento da história. Ela é um alento para o futuro. Portanto, não nos encantemos com "odes" à intervenção militar e a falsa inocência com que alguns insistem em analisar aquele período.