O advogado e o vigilante forense

 

 

O sol, a despeito de, desde cedo, escondido pelas nuvens, passara do zênite, e eram já quase 13 horas de uma quinta-feira, gostosamente nublada e de clima ameno nada comum para nós – hoje, 5 de janeiro de 2012, mais um modorrento começo de ano como foram os demais por que passei até agora.

 

Sozinho em meu gabinete na Assessoria Jurídica da Câmara Municipal, resolvo ir ao fórum, visitar a sala da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Nada de especial, apenas uma visita trivial de conselheiro, como faço de vez em quando. Vou conversar com os servidores da OAB e os advogados presentes, para me inteirar de assuntos diversos, ver como andam as coisas.

 

Passo antes, mesmo rapidamente, no Hemocentro Regional de Marabá (Hemopa), para visita fraterna ao Dr. Fernando Monteiro, médico e meu irmão de Maçonaria, pessoa de boa índole e de fino trato. Expresso-lhe votos de feliz 2012 e o convido para a próxima reunião da nossa loja, dia 12, após o recesso da Grande Loja Maçônica do Estado do Pará.

 

No fórum, percebo fechado à chave e à tranca com cadeado o portão do muro da frente. A pé, não vejo que, semiaberto, o portão de veículos dá passagem a pedestres. Sem ver ninguém, pego no cadeado do portão de pedestres, para verificar se realmente está fechado ou apenas o aparenta. Ouço a voz do vigilante que vem dos fundos do prédio e, olhando, o avisto.

 

O vigilante, jovem e bem franzino, acercando-se de mim, com ares de desconfiança, posta-se à frente da entrada, com cara de aqui não entra, e pergunta-me o que quero. Sua atitude me afronta, porque, embora sem gravata, trajo mangas compridas e paletó, além do que, conquanto advogue pouco, sou relativamente conhecido como advogado. Respondo-lhe ser advogado e desejar ir à sala da OAB. Ele, contudo, sem ressalvar o plantão nem mudar de atitude, diz-me que está tudo fechado e só funcionará segunda-feira.

 

 O deixar de ressalvar o plantão e a sua cara de aqui não entra soam para o advogado como acinte e exigem de mim a natural reação à altura, mais ainda pelo fato de ser conselheiro da Subseção da OAB como sou. “Caramba! Ele está querendo estragar o meu dia e vai-me dar trabalho. Confusão à vista. Mas, embora não a procurasse, não posso nem devo fugir dela. Ossos do ofício” – pensei. Contei mentalmente até dez e resolvi engrossar, chamaria até a Sociedade Protetora dos Animais, se fosse o caso, mas entraria no prédio.

 

Saquei da identidade de advogado e conselheiro de subseção da OAB, disse a ele que fora ver a sala da OAB, mas agora queria ver o fórum e falar com quem estivesse de plantão, e que, por isso, iria entrar no prédio. Ele ainda tentou argumentar, mas saiu da minha frente e me seguiu, até perto da porta da sala de distribuição, quando resolveu parar.

 

Fui atendido educadamente pelo serventuário de plantão, Jaconias. Disse-lhe ser advogado e conselheiro, perguntei-lhe quem era o juiz de plantão e expliquei-lhe que não queria nada. Apenas fora visitar a sala da OAB, mas encontrara resistência anormal na entrada do fórum e resolvera entrar no prédio, mesmo com a sala fechada. Ele me franqueou a ida à sala, se tivesse chave de lá e quisesse ir. Mas eu queria somente demonstrar ao vigilante que, ainda que não fosse conselheiro, depois de identificado como advogado, não poderia ser impedido de entrar no prédio. Agradeci, por conseguinte, ao serventuário e saí. 

 

À saída, conversei, muito rapidamente, com o vigilante. Expliquei-lhe que, como advogado, o fórum é um dos meus locais de trabalho, de forma que, depois de me identificar formalmente, ninguém deveria tentar impedir-me a entrada. Ele pareceu compreender, pois me pediu desculpas. Saí e voltei para a Câmara, um pouco aborrecido. A irresponsabilidade e inabilidade no atendimento do Estado, somadas à negligência das boas relações humanas, só podem produzir maus serviços, sofrimentos e miséria.