SESSÃO DE FISIATRIA
Nessas mal traçadas linhas exercito a minha escrita, a dita manuscrita, assim como fazíamos nas saudosas aulas de caligrafia em cujo caderno pautado tecíamos as palavras bem antes de serem apresentadas à máquina de escrever e ao computador, em cujas teclas também tecemos as letras grafando frases, poemas e uma série de conteúdo que estão guardados em nossos pensamentos, os quais registramos deixando exposta a nossa marca de emoções fixadas numa folha de papel fria e inerte, como querendo dar vida àquela árvore que um dia foi ceifada, transformada em pasta fibrosa até atingir o estágio de papiro, essa alva folha de sulfite.
Sem a facilidade de manusear o teclado de uma máquina ou de um computador, o que tenho em mãos é uma simples caneta esferográfica que durante boa parte da minha vida serviu como uma ferramenta transformadora dos meus pensamentos em algo sólido, o texto propriamente dito, ou escrito por assim dizer.
Reflito: o que posso fazer com essa haste que pouco a pouco formata palavras tal qual uma varinha de condão e, que por tantas vezes a utilizei, é tão mágica quanto aos teclados de uma antiga máquina de datilografia ou de um PC de última geração. Na verdade, pensando bem, a mágica não está nessas ferramentas citadas, mas sim naquilo que a nossa mente é capaz de produzir.
Mas esse exercício do qual estou me referindo, ou escrevendo aqui, tem um propósito especial. Face à síndrome Parkinsoniana que me acometeu, trata-se de um desafio determinado pela profissional fisiatra, faz parte do meu tratamento, um exercício para avaliar como anda a parte mecânica e motora da minha escrita manual.
Posso garantir que, se me perco nesses "garranchos" irregulares de um canhoto, vale aqui um registro, nunca tive uma caligrafia caprichada que despertasse suspiros. Todavia, o meu cognitivo continua ávido em construir palavras, sentenças, versos, prosas e um desenrolar de ideias que me dão prazer ao deixar estampados nessa antes simples e inerte folha em branco que tão bem representa o seu papel.