TIO NEM E AS BARATAS!
Quando cheguei do Paraná, passei um tempo morando com minha irmã Deni no Jabaquara até eu me aprumar na vida. Acontece que minha irmã trabalhava na área da saúde no período noturno na jornada 12/36. Já o meu cunhado trabalhava no Banespa no período noturno no setor de compensação de cheques. Eu nem tinha ainda vinte anos completos. Então, noite sim, noite não eu cuidava de meu sobrinho Renato, na época na graça de seus quatro ou cinco anos. E era tanta coisa que a gente aprontava naquela casa. Ensinei o moleque a plantar bananeira usando a porta da sala como suporte. Como ele usava bota ortopédica, descascou a tinta da porta. Minha irmã disse: O Nem! o Zoca quer saber que marcas na porta são essas. Ás vezes o Renato dizia: Tio Nem, faz chá gelado para mim! E eu respondia sempre: Então canta a vinheta que eu faço! E ele começava: “O tio Nem é um bom camarada! O tio Nem é um bom camarada! O tio Nem é um bom camaradaaaaaa!...Ninguém pode negar! Um dia minha irmã chegou muito brava! O Nem! O Zoca falou que o Renato aprendeu nome feio. Foi você que ensinou? Claro que não! Protestei. Houve acareação: Renato! Fala aquilo que você disse ontem e que o papai não gostou:
O tio Nem ficou “puto da vida” disse ele na maior inocência. Ah! Então foi isso. Peguei um gibi e mostrei a figura do cachorro do Micquey Mouse e perguntei o nome.
É o “puto” disse ele, com a maior carinha de anjo!
Tá vendo? Na verdade ele disse que o tio Nem ficou “Pluto” da vida e isso tecnicamente nem é nome feio. Pior foi o dia em que ela saiu atrasada para o trabalho e me deixou na responsa de ensinar uma quadrinha para o Renato falar na atividade de grupo na escolinha. Que quadrinha? Disse eu! Qualquer uma! Qualquer uma! Até “batatinha quando nasce” serve! Chamei o moleque! Renato! Vamos ensaiar uma quadrinha de respeito! Presta atenção: “coração quando nasce, esparrama pelo chão...” e ele repetia direitinho! Bem, o resto nem vou dizer. Basta referir que na primeira reunião minha irmã voltou furiosa: O Nem! Que quadrinha foi essa que você ensaiou o Renato que todo mundo me olhava com cara de riso e queria saber se fui eu quem o ensinou! E quando chegava o fim de semana eu entrava em uma “Levi’s Carpinteira” cheia de bolsos, vestia uma camisa da hora, jogava uma água de cheiro e o Renato no meu pé: Onde você vai tio Nem?
Ora, Renato, vou dar umas paqueradas por aí!
Leva eu! Leva eu! E corria até o portão. O Zoca Protestava:
Renatooooo! Hããããã!
Mas o pior ainda estava por vir. Certa vez apareceu uma barata enorme na sala. Mata ela tio Nem! Peguei o chinelo e parti para o ataque. Ela se refugiou no banheiro e eu deitando chinelada. Mas a danada era safa! Por fim, correu para o box e desapareceu. Entrei no box com chinelo em punho, mas onde estaria?.E nem dei conta que estava embaixo do chuveiro. Todo mundo sabe que as baratas quando acuadas se tornam extremamente violentas e partem para o ataque. Elas pulam no cangote e enfiam aquelas patinhas geladas e nojentas na cavidade auricular. O momento era tenso! Enquanto pensava essas insanidades, caiu uma gota de água gelada bem no pé do ouvido. Dei um pulo, soltei um grito que deveria ter sido pavoroso, mas pego de surpresa, acabou saindo um falsete. E centava chinelada no meu próprio pescoço tentando acertar a danada. E o Renato se acabava na risada. Ela já fugiu tio Nem! Bons tempos aqueles. Nem sei como não incendiamos a casa.