A praça
O Sol já declinava no poente, cedendo lugar para a Lua que não tardaria a despontar aos nossos olhos. A praça da Igreja, em frente ao Fórum, embora pequena, estava lotada com os moradores do bairro. A princípio, assustei-me com tamanho movimento, já que não era nem dia de missa – aliás, a Igreja estava fechada, mas a rotina local estava totalmente mudada. Os olhares de admiração estavam presentes em cada semblante!
O motivo de tanta alegria era, sem sombra de dúvida, a conclusão da praça que, após longa e tenebrosa espera, foi entregue aos moradores do bairro. Tamanha era a euforia que se esqueceram, temporariamente, da insegurança do dia a dia – problema enfrentado pela população do bairro e da cidade, de um modo geral.
A noite ganhou força, porém na praça ainda parecia dia. Talvez o excesso de claridade – que agora iluminava todo e qualquer espaço num raio de duzentos metros, além da calçada que a circundava – fosse o motivo de tamanha segurança.
Os bancos da praça eram disputados pelos mais idosos que, aos poucos, iam formando grupos. Mas, vale salientar que as passarelas entre os jardins estavam ocupadas por todas as faixas etárias! Pensei então: “pelo menos enquanto o assunto for novidade, com certeza, teremos esse burburinho na praça…”.
Em meio àquela agitação, olhava para um grupo de idosos e me perguntava quando é que ia parar e me organizar para iniciar as tarefas manuais, que planejei para a minha velhice? Sim, porque o tempo urge.
Diante do que presenciava, cada vez mais me convencia de que o meu futuro seria diferente. Nunca gostei de ficar sentada em praças públicas, assim como também não fico deitada na areia da praia para me bronzear. Gosto de outros afazeres. Se bem que, quando planejei os trabalhos manuais para a minha “tranquila velhice”, eu estava em outra vibe - como dizem os jovens. Hoje, já não sei se me adequaria a eles.
Por falar em velhice, hoje me peguei pensando: o que é ser velho? Quando é que se inicia a velhice no corpo humano?
Há quem diga que a velhice se instala, no ser, a partir da fecundação do óvulo; outros, quando o ser se isola do mundo, assustado que está, com a modernidade que lhe bate à porta diariamente – esse não é o meu caso –, perdendo, assim, a chance de adequação às novas ideias. Perdido no tempo e no espaço, ele (o idoso) torna-se um ser vegetativo apenas.
Outros consideram que velhice é quando, esteticamente, o organismo já não responde com tanta prontidão às suas necessidades, mostrando na prática a famosa lei da gravidade – nisso me enquadro perfeitamente!
Ou, fisicamente, quando nossa resistência a certos exercícios ou atividades diárias, diminuem sensivelmente. Tenho me esforçado para distanciar-me ao máximo dessa fase.
Particularmente, não me sinto cansada e muito menos envelhecida, mentalmente. Ao contrário, nunca me senti tão bem! Chego a esquecer de que a minha carcaça nem sempre consegue acompanhar a fluidez da minha mente.
Dizem os estudiosos que, quando jovens, aprendemos e, com o passar do tempo, compreendemos o que aprendemos. Assim, na velhice estamos mais amadurecidos mentalmente e, com isso, pensamos de forma mais racional e equilibrada sobre as coisas. Os nossos valores já filtrados nos permitem viver mais livremente, sem o incômodo de lidar com as opiniões alheias –, tornando-nos mais transparentes, essa é a verdade.
Bem, levando em conta que o processo evolutivo do universo, onde tudo o que nele há, passa pelas fases de “evolução e involução”, fica claro que a matéria que nos forma, dia a dia se transforma e, com o tempo, fenecerá. Contudo, acredito, também, que somos muito mais que “matéria”, sei que nossa mente evolui constantemente, talvez aí se encaixe a máxima que diz: “Na velhice o nosso cabedal de conhecimento é incalculável”. Por essas e outras devo repensar e organizar minhas futuras atividades para a velhice.
Voltando ao assunto, olhando para a praça, considero que não sei quanto tempo vai durar esse movimento, mas, é bom saber que a vida ainda pulsa na comunidade. Que as pessoas ainda gostam de jogar conversa fora, que as crianças procuram – ainda que timidamente – aproximar-se uma das outras, com intuito de amizade. Lógico que as brincadeiras de roda, queimada, esconde-esconde, etc., já ficaram para trás. Hoje, os olhares estão todos divididos entre o próprio entorno e a telinha do celular. Como diria a minha mãe: “Um olho no peixe e o outro no gato!”.
A vida sempre seguirá seu rumo, o tempo correrá como sempre correu – apesar de acharmos que hoje a vida é mais corrida. Muitas pessoas passarão por ali. Só a praça permanecerá. Ainda que apenas nas lembranças daquelas crianças que, como eu, um dia estarão pensando nos muitos momentos vividos.