Daí...

Daí você olha no espelho e percebe que envelheceu.

Apesar das dores, estava bem.

Algumas limitações acontecem: a coluna não quer colaborar; articulações te lembram a todo momento que elas existem; a memória brinca de esconde-esconde; a melanina desaparece; o colágeno derrete, sua pele cria características de uma borracha, mais exatamente um elástico que perde a regeneração e aderência.

Está preso a um sistema criado para produzir. Você, uma peça da engrenagem. Sequestram teus bens, usam seus filhos e esposa(o) para te manter trabalhando, te deslumbram com uma facilidade que te manterá ali para sempre, ou quase.

O diário de um mago é insuficiente para manter seu encanto. Este também se perde, ou é passado para outro, através dos anos.

Mas para tudo isso há uma "quase" solução. Milhares de mestres especializados em uma pseudo cura da doença do extrativismo. Te ensinam como viver, pois são bem sucedidos a base de esforço de outros, que lhe pagam uma bagatela para te provarem que realmente é incapaz de fugir da roda.

Os bancos te agradam com as grades da prisão, a realidade dá lugar a fixação. A vida virtual é agradável, os problemas são menores, e o prazer em permanecer ali, é fascinante.

Aquele que rompe a corrente é desertor. Cancelado por todos, imposta a substituição. Como pode uma pessoa viver a vida que deseja, sem a permissão "comum"? Um egoísta, não dá valor ao que te prende. Sísifo rebelde, um fugitivo, covarde.

Volte, empurre a pedra, gire a engrenagem, é o teu destino, essa prisão é a tua liberdade.

Aperto o botão de emergência, a porta se abre. Sem paraquedas, quero saltar.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 23/05/2022
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