Quandos os "santos" subiram
Quando os “santos” subiram
Alhures já tivera lido e ouvido a frase “seria cômico se não fosse trágico”, aplicável em várias circunstancias nas relações humanas, sobretudo.
É na vertente do abuso com a difusão da Fé que narro a presente crônica, se é que posso chamar de crônica.
Ávidos para descobrirmos quem era o assassino em série das crianças no Maranhão e em Altamira no estado do Pará, haja vista as assinaturas e modus operandis terem demasias congruências, todos informes que nos chegavam, operávamos diligências.
Naquela época havíamos assumido a Superintendência de Policia Civil da Capital maranhense, foram cerca de 3 anos e meio com inúmeras ações ali desenvolvidas e fechamento com a identificação, localização e prisão do único matador das crianças no epitetado “casos dos meninos emasculados do Maranhão”.
Como estávamos “atirando no escuro”, não deixávamos passar nenhum informe, até se transformar em informação e com isso viesse subsidiar inquérito policial para que, formalizando os trabalhos investigativos, fosse entregue à Justiça o autor dos horrendos assassinatos.
Pois bem, dentre um dos informes coletados pelo telefone que dispomos para receber denúncias que pudessem nos levar ao suspeito, uma nos chamou a atenção, ou seja, que seria um possível “pai de santo” que tinha seu terreiro de magias no bairro da cidade Operária.
As mensagens obtidas via ligações telefônicas eram deveras truncadas onde a partir de então, tivemos que bater à porta de alguns centros de manifestações espirituais de linha afro-brasileiros instalados naquele bairro, a fim de averiguarmos se as informações de fato procediam ou não.
Mas dentre um deles o que mais nos chamou atenção é que, quando chegamos com duas viaturas, sendo uma caracterizada e outra descaracterizada, custamos identificar o local onde funcionava os trabalhos daquele segmento de religiosidade, até que, num galpão improvisado na parte posterior e ao fundos uma residência, ali paramos, batemos palmas a fim de alguém viesse nos receber.
Custou bastante a chegada de um determinado cidadão. Mas insistíamos porque populares começavam a nos apontar que aquele local seria o tal denunciado onde promoviam as chamadas “magias negras” que, por meio de sinais aos policiais, pediam para que insistíssemos na diligência naquele local.
E assim fizemos, ou seja, depois de alguns minutos, aparece um cidadão de chapéu na cabeça informando que não morava nenhuma homem de nome “x” (o apontado nas ligações telefônicas). De pronto, perguntamos a ele quem o era, respondeu-nos que não era o procurado, mas um “cavalo” que estaria sob o corpo dele, olhamos para atrás e víamos populares apontando que o tal era exatamente o dirigente espiritual daquele local.
Sem alternativa, verificando pelos tirocínios policiais que aquele homem estaria omitindo algo, pedimos para que ele se identificasse civilmente, momento em que falou não se tratar da pessoa procurada (o homem “x”), mas, reiterou, de um “cavalo” (tipo de entidade ou “santo” que dizem receber em suas manifestações religiosas).
Pedimos ainda para que ele nos autorizasse adentrar ao local a fim de fazermos uma busca, caso fosse possível.
Naquele instante, com receio de ser desmascarado ou lhe ter alguma medida judicial em desfavor no por vir, ou até ser convidado a acompanhar a equipe policial para prestar esclarecimentos na Delegacia, bem como ouvindo de um dos policiais “já que ele não era o responsável pelo local, pois era a “entidade” que nos falava, sugeriu-se pegássemos duas algemas, uma para o “santo” e outro para mencionado cidadão”.
No instante acima, o tal cidadão, de pronto, disse, “não precisa, pois o santo acabou de subir e agora sou eu quem voz fala, podem entrar, pois não devo nada e jamais faria o que me denunciam e determinou a um auxiliar que ali se encontrava que tocasse o sino para que todos os santos subissem”.
E os “santos” subiram...
Oxalá nos proteja dos brincantes da Fé!!!