ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Ela estava ali, jogada no chão, sob os olhares acusadores e zombadores de uma pequena multidão. Estava humilhada, amedrontada e esperando o pior.

-Mestre, a lei de Moisés manda apedrejar, até à morte, a mulher pega em adultério. E tu, o que dizes?

Não estavam interessados na Lei de Moisés, e aquela pobre mulher era apenas um pretexto para colocar o Mestre em contradição. Se respondesse que deveriam cumprir a Lei Judaica, colocaria em cheque sua doutrina de Amor. Se dissesse que não deveriam cumprir a Lei, estaria contra a doutrina judaica.

Um homem comum escolheria uma das possibilidades e lutaria para fazer valer sua opinião. Mas Cristo não era um homem comum. Sua mente era muito superior à daqueles que lhe preparavam a armadilha.

Sobrepôs-se a todos, dominando suas emoções e se impondo como um Mestre, e disse-lhes, calmo e confiante:

- Aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra.

Olhou firme nos olhos da multidão e os desafiou a mostrarem sua justiça.

Naquele momento, a começar pelos mais velhos, recordaram-se dos seus próprios pecados. Entenderam que em nada eram superiores ou mais puros que a pecadora pública. Talvez, no íntimo de seu ser, carregassem culpas inconfessáveis. Jesus, que lia suas mentes, sabia disso.

E um, por um, foram se retirando, ate que a mulher, encolhida no chão e Jesus ficaram sozinhos.

Ele ajudou-a a se levantar e com a voz suave e terna de quem só sabia amar, lhe disse:

- Onde estão teus acusadores?

- Foram embora, Senhor.

- Nem eu te condeno . Vai e não peques mais.

O mundo, à nossa volta, está sempre nos ameaçando com pedras, acusando-nos, nos julgando e prestes a executar a sentença. Não veem seus próprios pecados e clamam por uma justiça sem amor.

Muitos de nós, humilhados, somos mantidos no chão, sob olhares acusadores e pedras emocionais, que matam mais que as materiais.

Os acusadores, no entanto, conhecem a si próprios e sabem que não há justos diante da onisciência de Deus.

É preciso que ergamos a cabeça, buscando o olhar do Mestre, e, todos, acusadores e acusados, entendamos que não há quem possa atirar a primeira pedra.

Afinal, nascemos no pecado, vivemos no pecado e só pela Misericórdia da Redenção, somos salvos.