Eu sou a estrela
E numa noite de céu azul límpido, eu consegui com meu óculos enxergar uma estrela.
É curioso perder algumas capacidades.
É maturidade entender algumas perdas.
Fiquei uns instantes nesse gesto bobo, subia e descia as lentes do óculos, a estrela ficava nítida e borrada. Nítida e borrada.
Nítida ela se fazia menor, borrada crescia. Parecia muito a minha dor, no exercício diário de entendê-la e aceitá-la ela se fazia miúda, na distração rotineira, quando borrada, ela crescia, como que para me lembrar que tudo aquilo que se borra toma mais espaço e parece mancha.
Eu sei, eu sei. Isso é tudo muito banal. Um gesto bobo me apanha só e desprevenida. Eu sou nesse momento a própria estrela e não sou eu. Do mesmo modo que a observo e sinto pena de sua solidão, ela me olha de volta e de mim sente a mesma piedade. A gente se encara, mudas, ambas. Nada dizemos.
Ela e eu aparentemente estamos sós, mas a verdade é que há outras muitas estrelas ao redor dessa, e a minha volta, mesmo que não em presença, muita gente me ama, me ama ainda. A olho nu eu não via estrela alguma, mas amor não é tangível mesmo...e eu tampouco me importo de por meu óculos p ver, sem ver eu sinto ainda, mesmo estando só olhando a mim mesma pela lente e pelo espaço distraído da fresta da janela, posto que eu estou só, eu sou a própria estrela.