Acorda Senhora!

A dona senhora, sem tempo, sem hora, vivia correndo no espaço, na vida, realizando sonhos na sua estrada florida, conciliando a casa com o trabalho, estava ficando enrolada, perdida.

Um dia acordou com o olhar nebuloso recebendo a visita da escuridão, que chegava com a mala repleta de medo, cacos de tristeza e muita solidão.

A negritude do mundo, a negritude da vida, era um pesadelo assustador. Os jornais de TV anunciavam que a guerra do vírus atacava a vida e que milhares de pessoas estavam sofrendo, estavam morrendo. Foi assim durante dois anos, lava a mão, lava a mão, use máscara, lava a mão, álcool gel, lava a mão. A vida parou, o mundo silenciou, os comércios fecharam, os empresários faliram, o mundo escureceu e quase desapareceu, os sonhos foram interrompidos, era a guerra contra um vírus que atacou o mundo e que ninguém conseguia combater. Sem sair de casa, a senhora lutava contra o medo de morrer, pensava nos filhos mascarados que apesar de tudo tinham que trabalhar, tinham que sobreviver. Foram dois anos sofridos até que uma vacina chegou e amenizou a situação. Mas as pessoas morrem, morrem atacadas pelo vírus ou atacadas pela vida e pela guerra. Tudo acalmou e um raio de luz apareceu. Foi triste, doeu e de tristeza morreu. Acorda senhora, não morra agora, acorda senhoraaaa.