Se tem um tipo que arrepia o cabelo é o tal do "resmungão". Bicho pra lá de arretado, no sentido invertido, já chega feito um galo armado e prepara o esporão. Da boca, pouco seletiva, só sai asneira. Reclama do horário do ônibus, do cadarço desamarrado e até da geladeira. Da mulher que cozinha a verdura que traz da feira. Do homem que coleta o lixo e até da sua fritadeira. Quem olha pro aventureiro, pensa que é um cabra maneiro que consola o povo brasileiro falando do seu mito, uma espécie de Deus. Mas antes mesmo de acordar as crias, já solta um de seus queixumes e manda o moço do gás, que trabalha no caminhão, ir pra casa do... Seu João. (Menos mal). Reclama do tempo fechado, do céu ensolarado, da chuva e do vento. O homem que parece um jacaré, quando abre a boca, ninguém fica de pé. Outro dia no açougueiro, um professor que passava por lá, deu a ele um nome certeiro:
-Tú és meu caro, um retrato falado de um brocardo brasileiro. No gênero textual, tu entras como uma missiva, cheia de indignação, você seria o exemplo, de uma carta de reclamação.
- Meu caro, mestre atrevido. Nem sabe com quem eu lido, você não nasceu, tu fostes parido. Se sou carta de reclamação, tu és um texto tolido. Mas não se aveche, não. Melhor ser carta de reclamação do que ser banido. O açougueiro, coitado, foi logo pegar o papel:
- Se quiser reclamar, tome nota no balcão da aguardente, mas deixa essa fila andar, Sr. Vicente! Arreda, aluado!