O roubo - BVIW
Tema: Carta de Reclamação (crônica)
Catarina amava Frederico de corpo e alma. Ela conhecia cada centímetro do corpo e da mente de Fred. E sondava seu coração. Era um romance que já tinha rodado o sol 5 vezes, que carregava em si todas as estações do ano e as muitas dezenas de fases da lua. Frederico não era indiferente a esse honrado amor e a amava também. Faziam planos para o futuro, uma casa no meio das árvores, desde que fossem flamboyants, acácias e ipês. Imaginavam seus filhos, o que teriam de cada um dos dois, se os olhos verdes dela ou os azuis dele. Noivaram-se.
Mas um dia, aparentemente como outro qualquer, o sol despontou ingênuo. Ao se pôr, já sangrava no horizonte de junho, quando Frederico a procurou em casa e terminou o noivado. Catarina estava oca, subitamente desalmada. O sangue lhe fugiu das faces e ela parecia uma boneca de cera. Dois dias depois, escreveu-lhe uma carta e começou assim:
RECLAMAÇÃO
Frederico,
Venho reclamar de ti o roubo atroz que me fez. Não reclamo do coração partido, nem do rio de lágrimas que chorei, nem da energia que verti para ti durante os 1.825 dias. Não reclamo dos sonhos desfeitos, nem dos filhos que abortamos com o fim do nosso amor. Não reclamo da comida que tão caprichosamente preparei para ti, nem das vezes que te socorri quando adoeceste. Nem das horas de Insônia após discutirmos. Reclamo do roubo que me fizeste, com tanta sedução e engodo… Frederico, roubaste-me de mim mesma!