Ganhei uma lingerie (BVIW)

 

O quarto era espaçoso e nele reservei espaço para uma escrivaninha onde preparava minhas aulas, isto, nas horas de folga das atividades domésticas.

Um belo dia, início do mês de maio, sentei-me na frente da minha máquina de escrever, da marca Olivetti, e comecei a datilografar uma carta. Sim, uma carta de reclamação, pois meu esposo trabalhava noutra cidade e quando estávamos juntos em casa tínhamos pouco tempo para longas conversas. Deste modo, os assuntos se resumiam à rotina do dia a dia, principalmente sobre os filhos, escola; enfim, temas triviais.

Pois bem, naquele dia resolvi reclamar dos presentes que ganhava nas datas comemorativas, mas não queria ser ingrata, posto que, de alguma forma, ele se lembrava de me fazer um mimo. Pensei então em escrever uma carta, colocar em sua mochila, para ele ler quando chegasse ao trabalho. Na verdade, não queria causar nenhuma desavença, já que éramos um casal que preservava a relação - e sem brigas.

Comecei a carta dizendo que o amava e que os nossos filhos eram fruto do nosso amor, por isso eu era uma mulher feliz. Lembrei-lhe que a geladeira, o fogão, o liquidificador, a panela de pressão e os outros equipamentos domésticos estavam todos funcionando, portanto, a dona da casa não precisava substituí-los e assim não deveriam entrar na lista de opções de presente para o Dia das Mães.

Pois bem, a reclamação funcionou, foi a primeira vez que ganhei uma lingerie de presente, e a usei na mesma noite daquele Dia das Mães, é claro.

 

Ieda Chaves Freitas

17.05.2022

 

Tema da semana: carta de reclamação.