O dolo da culpa
Estes dias me chamaram de gato, e eu não gostei. Nada contra os gatos, os peludos e bocejadores, os proprietários originais do termo, mas sinceramente não me agrada o "elogio". Sim, porque fui denunciar a ofensa ao Juizado de Pequenas Causas, e lá me disseram que ser chamado de gato é um elogio, e não algo do qual devamos prestar queixa.
Eu não me convenci, tentei dissuadir os jurados a reconsiderarem a opinião, e na contagem geral dos votos perdi por 7x1, uma derrota tão frustrante quanto aquela de mesmo placar do Brasil contra a Alemanha, pela final da Copa de 2014. Tanto quanto o Brasil, também me senti humilhado, mas diferentemente do Brasil não me persuadi da utilidade elogiativa do termo, seja no gênero masculino, seja no feminino, o que é mais grave.
Sinceramente não sei como agrada a algumas mulheres serem chamadas de gata. Por que será que não prestam queixa contra quem adjetiva e muda de gênero o substantivo tão lindo, formoso, lustroso?
Eu não compreendo as mulheres, é verdade, e muito menos os homens, é fato, mas essa desinformação geral não me impede de achar o adjetivo gato pouco expressivo para servir como elogio a um homem lindo, belo, airoso, gracioso (o que não é meu caso, evidentemente), muito menos a mulheres, seja na condição de uma Medusa, com diferencial de um metro e noventa e cinco centímetros de altura, ou, menos frequentemente, na de uma Pacífica de Aristheu, de apenas um metro e setenta e um quilos e setecentos gramas.
Não entendo, não entendo mesmo essa mística, como antes eu não entendia a diferença entre crime culposo e crime doloso. Mas eu fui para a Uneal, estudei lá mais de doze anos no curso de Letras e finalmente consegui desvendar o mistério. Hoje eu sei que estava enganado quando concebia o crime culposo como aquele em que havia a intenção e o doloso, aquele em que não havia. Hoje eu sei que se dá justamente o contrário... Mas eu pensava "culposo" só pode derivar de "culpa", logo, quem comete crime culposo tem a intenção de causar dano; e caía na pegadinha...
Passei anos da minha vida achando que sabia distinguir o dolo da culpa. Durante esse tempo, passei vergonha em público, inclusive mais de uma vez, quando o assunto era diferenciar o dolo da culpa, inocentemente, porque eu não sabia que eu não sabia a diferença entre dolo e culpa. Então, depois de mais de doze anos de Uneal, finalmente descobri que estava trocando as bolas. Atualmente penso que me redimi, mas nada que venha a me conceber o título de "gato". Gato não combina com palmeirense não: gato combina mesmo é com gata, sem dolo nem culpa.