UM TIRO NO FIO
Um Tiro no Fio
Vento Lusitano
Até aos onze anos de idade morei muito próximo ao Terminal Rodoviário no centro da cidade. Nas proximidades havia vários bares e lanchonetes, cinema, jogos de sinuca, jogos de tiro ao alvo e também era local de se engraxar o sapato. Era um período de exploração extrativista da madeira, na cidade havia também muitas serrarias.
Naquele período a maioria dos filmes que assistíamos aos domingos, na matinê era de bang bang. Sendo assim, não era de se estranhar que os jogos de tiros ao alvo eram por demais atrativos. Sempre tinha pessoas atirando com espingardas de pressão as setas de pluma nos alvos e os chumbinhos no fio. O jogo do fio consistia em um fio amarrado em um prego fixado em uma tábua e ao final do fio estava amarrada uma nota de dinheiro do maior valor da época. Acertando o chumbinho no fio e cortando-o por completo ganhava como prêmio o dinheiro que estava fixado ao final. É percebível a dificuldade em ganhar, era muitíssimo difícil.
Lembro bem, era meio-dia e meia, quando no Terminal Rodoviário chegou um ônibus interestadual, ele permanecia no local quinze minutos. Percebi quando desceu do ônibus um senhor magro de barba rala, cabelo castanho, trajando uma jaqueta de couro marrom, aparentando uns quarenta e cinco anos. Ele logo após descer do ônibus olhou para todos os lados e deu para perceber que fixou o olhar no Tiro ao Alvo que ficava do outro lado da rua. Chegando ao Tiro ao Alvo indagou ao atendente qual o valor para jogar, o atendente mencionou o valor dos tiros com setas, e ele de imediato disse não, eu quero saber o tiro de chumbinho no fio. O atendente então lhe disse o preço e ele pediu um chumbinho. Quando ele baixou o cano da espingarda de pressão para colocar o chumbinho já havia muitos espectadores para ver o tiro no fio, inclusive eu e meus amigos, eis que não era de praxe as pessoas optar em atirar no fio. O cidadão desconhecido ficou em posição de tiro, era possível perceber sua segurança, a firmeza com que segurava a espingarda, ele foi levantando, levantando suavemente o cano e em determinado momento parou por completo, não mexia, não demorou atirou. Foi uma só voz, a minha também fez parte daquele improvisado coral, ...UHUUU! O chumbinho arrebentou o fio e o dinheiro saiu a bailar em direção ao chão. O atendente e todos os presentes ficaram surpreendidos. O atendente lhe deu o dinheiro, ele sem falar uma só palavra pegou uma carteira em couro marrom que tinha no bolso de trás da calça, colou o dinheiro e subiu novamente no ônibus. Não demorou ônibus partiu.
Ficou a indagação a todos que presenciaram aquela inusitada cena. Todos queriam saber quem era o homem autor daquela proeza, que atirava tão bem, que chegou discretamente, atirou, acertou e foi embora como o vento. Nesse momento o meu amigo ZEQUINHA tirou sua caixa de sapato das costas, colocou-a ao chão e sentando nela disse: “Sei quem é o homem, só pode ser o DJANGO, assisti um filme com ele na matinê.” Todos riram com a “pegada” do ZEQUINHA, mais a verdade é que a curiosidade de quem era o homem de boa pontaria continuou, ou quem sabe ZEQUINHA tinha razão, poderia ser o DJANGO PARANAENSE.