Eu assino os papéis

Meu olho treme, eu assino repetidas vezes o papel. Escuto o grito de mim ecoar perto de gente surda. Observo o jeito jovial e a beleza aparente do outro assinante. Ele parece habituado a assinar o papel, eu não.

Assino repassando mil vezes a decisão que já tomei, e penso q meu olho treme por esse exercício cansativo de duvidar do destino que já foi traçado por mim para mim mesma.

Quem melhor que eu vai saber o que é melhor para mim?

Me acalmo um pouco c essa pergunta sem questionamento, enquanto invento com uma habilidade inócua que eu sei mesmo o que estou fazendo.

Vou vivendo 5, 6 anos a frente pelo tempo de mais duas assinaturas com meu nome em negrito e o espaço em branco de uma linha...

Eu a preencho com meu nome

E de mim ele se apaga

No mesmo instante que vivo esses 5, 6 anos de futuro, meu eu de agora sai da sala, e então quem é aquela que assina, escreve seu nome mecanicamente naquelas páginas com tantas palavras que não contam a história de ninguém.?

Com toda minha habilidade c as palavras eu só consigo pensar:devia ser proibido juntar assim tantas palavras e não contar do que é feita insustentabilidade da vida, e não declarar todo um amor insano sentido por alguém, não expressar qualquer alegria contida em horas aparentemente bobas e insignificantes...

Termino de viver 5 ou 6 anos e o papel me cobra mais uma assinatura, uma última, também repetida, o negrito marca meu nome e ali também está a linha conhecida em branco.

Meu olho para de tremer, meu grito ainda ecoa para gente surda...

Mas eu me dou conta que me ouço, então recebo meu grito de mim...

(Eu estou pronta p viver 5, 6 anos e mais)

Suze Rodrigues
Enviado por Suze Rodrigues em 12/05/2022
Reeditado em 16/05/2022
Código do texto: T7514340
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