DIÁRIO DA VIDA ADULTA: O MOMENTO DA VIRADA
Eu olho para as paredes e elas são todas iguais. Todas seguem um padrão de construção. Artificial? Sim, mas ainda é um padrão.
Os padrões se repetem incansavelmente pela natureza e o ciclo da nossa vida, tão repetitivo que chega a ser enjoativo, é o exemplo categórico dessa constatação. Pensei nisso justamente enquanto olhava sem nenhuma pretensão para as paredes (embora eu sempre pretenda).
Recordo, por exemplo, que um pequeno canguru sempre dá um salto maior que as pernas, mesmo que as pernas sejam pequenas comparadas as de um canguru adulto, mas ainda são proporcionais ao seu tamanho e mesmo assim ele salta conforme implora sua natureza. Incrível, não é? As paredes, os cangurus e eu sozinha pensando em paredes, cangurus e saltos maiores que eu.
Quando eu saltei, eu sei que a minha natureza também implorou tal qual a do filhote marsupial supracitado. Todavia, ela foi adestrada para saltar? Não, eu saltei por puro e livre desejo próprio, não tão livre, se a liberdade for guiada pela natureza que já implorava antes do pulo ser dado e os acontecimentos sucedidos.
O que há de especial em tudo isso? Nada ou tudo. Nada para quem não olha para as paredes e percebe que elas são todas iguais. Tudo para quem, depois de um tempo, notar que até nas falhas há um toque do ciclo da vida. Tarda, mas não falha, porque se falhar já não existe mais.