NÃO FUI BOA MÃE

 

Eu estraguei meus filhos! É isto o que andam propagando os especialistas e coaches da atualidade. Diante dessas afirmativas, então sim, eu não fui boa mãe.

 

Eu estraguei meus filhos, porque no primeiro ano de vida passava horas acordada após cada mamada por medo de sufocamento ou engasgo com o leite ou pelo pavor da morte súbita de berço, tanto orientada pelos bons médicos. Mas eu não fui boa mãe...

 

Eu estraguei meus filhos, porque na primeira infância me especializei em vigilância infantil, cuidando para que não tivesse nenhum objeto ou brinquedo minúsculos que fossem capazes de serem engolidos ou colocados nas narinas dos meus pequeninos. Mas eu não fui boa mãe...

 

Eu estraguei meus filhos, porque na segunda infância usei sem parcimônia a palavra NÃO, a fim de impor limites e para a proteção deles, visto que dar limites, me ensinaram os profissionais da área de saúde mental, ajuda a criança a evoluir e a ter segurança em escolhas futuras. Assim pratiquei: não coloque o dedo na tomada, vai levar choque, vai machucar e doer. Não pegue os brinquedos e objetos dos coleguinhas sem pedir emprestado, e não traga para casa nada que seja de outras pessoas. E se fizer algo errado, fale com a mamãe ou papai, o lema em nossa casa é: quem fala a verdade NÃO merece punição, e sim uma conversa para pensar no que fez de errado. Mas eu não fui boa mãe...

 

Eu estraguei meus filhos, porque quando se tornaram adolescentes, orientei sobre os perigos da vida, sobre as escolhas das amizades, das consequências das nossas palavras e atitudes. Enfim, procurei transferir o que de melhor absorvi do aprendizado com meus pais. Mas eu não fui boa mãe...

 

Eu estraguei meus filhos, porque deixava de comer para me alimentar de orações a cada vez que eles adoeciam ou enfrentavam situações difíceis ou de risco. Não fui boa mãe, porque ensinei o certo a ser feito, a respeitar o próximo, a não ter preconceitos, a não julgar pela cor da pele, pela classe social ou pela preferência sexual. Aconselhei a amar as pessoas pelo o que elas eram e não pelo o que possuíam. Amá-las independente das suas ideologias religiosas, sexuais e políticas. Mas eu não fui uma boa mãe...

 

Eu estraguei meus filhos, porque orientei a valorizarem os estudos, aproveitarem as oportunidades, a serem bons exemplos para o mundo sendo dignos e éticos em suas vidas. E a partilharem com os que possuam menos ou nada, fosse conhecimento intelectual ou bens materiais. Mas eu não fui boa mãe...

 

Eu estraguei meus filhos, porque os amei mais que a mim mesma por desejar vê-los triunfando como seres evoluídos de coração generoso, de bom caráter e boa índole. Mas o mundo, com seus novos profissionais e coaches, estão propagando que mães como eu somos culpadas pelos fracassos, pelos medos e pelas inseguranças de nosso filhos. ÊPA! STOP AÍ! E o livre arbítrio? E a liberdade de pensamento e de expressão? Mães como eu somos responsáveis pela insegurança dos filhos? Mas para irem para baladas e namorarem, a insegurança e o medo pedem licença? A insegurança e o medo só para assumirem suas responsabilidades de estudos e trabalho? Não me passem atestado de burrice!

 

Diante disso, posso afirmar, EU NÃO ESTRAGUEI MEUS FILHOS nem nenhuma outra mãe que amou e gastou sua vida por amor a seus filhos. Será que esses profissionais e coaches não pensam que o erro pode estar nas escolhas desses filhos ou de não terem ouvido as orientações de suas mães ou de seus pais? É muito fácil computar aos pais os fracassos dos filhos. É mais fácil dar uma resposta que mexa com a mente dos jovens contra seus pais a encontrarem uma solução plausível. EU FUI UMA BOA MÃE e ponto!

 

Mulheres não chegam com diplomas, certificados ou manuais para serem mães Top de linha, elas simplesmente amam e procuram desempenhar da melhor forma a missão materna. E se errei por amor, que seja! Mas nunca abandonei um filho, não abortei, não deixei sem alimentação nem sem cuidado de higiene, nunca deixei sem cuidados médicos ou sem carinho e colo. Estive presente nos piores e melhores momentos de suas vidas. Agora, a partir da fase adulta, conforme as suas escolhas, eles me colocam dentro ou fora das suas decisões, e cabe a mim somente fazer oração e desejar com todo o meu amor infinito, que sejam felizes e realizem seus sonhos com boa saúde e decência. Eu não estraguei meus filhos, porque eles são livres em pensamentos, escolhas e vontades.

 

FELIZ DIA DAS MÃES! E que nenhuma mãe se sinta culpada pelas escolhas e destino de seus filhos. Eu não me sinto. 

 

#mãesemculpa #naosouboamae