MÃE
MÃE
Mãezinha! Vem, senta aqui perto de mim, que quero falar algumas coisas para senhora; coisas que nunca disse por teimar em não ver necessidade em dizer. Mãe, veja que cresci. Sou adulto com todas aquelas mesmas inconsequências de antes que me incentivavam a correr quando eu, na verdade, sequer sabia caminhar... E a senhora estava lá para me corrigir e não permitir que eu queimasse etapas. Mãe, veja que cresci. Sou aquele projeto de homem que disse se bastar para si mesmo, desde que suas asas acolhedoras se abriram, permitindo meu pequeno voo e a primeira lufada de vento no meu rosto aventureiro. Eu não estava pronto, como ainda não estou, mãe! Mãe, vejo que cresci. Sou homem! Sou homem desorientado, perdido nessa estrada que, invariavelmente, quis caminhar longe de seu afeto, de seu zelo, de seus conselhos. E foi assim que me perdi de mim, teimando em me perder da senhora. Não deu, mãe... Não dá! Mãe! Vem sentar aqui perto de mim e deixe que meus dedos abracem suas mãos judiadas e que sempre souberam das carícias que mais amei, desde sempre. Vem, que quero te dizer coisas que triturei, digeri e ruminei, como boi sonso. Mãe, não dá mais para aprisionar no meu peito as palavras de fogo que preciso dizer à senhora. Tenho que dizer, mesmo que elas queimem meus lábios e se agarrem em mim, provocando um bolo intragável em minha garganta. Mãe! Olhe para mim. Derramarei em seus olhos meus novelos de arrependimento, meus enfeixes de perdões a serem pedidos, minha colcha colorida de amor há muito dobrada e largada no fundo de minha mala de viagens feitas por aí, sem me dar por sua mão amiga a me desenhar a melhor estrada. Mãe, perdoa-me por insistir em querer ser órfão da senhora. Mãe, quero abraçar seu corpo alquebrado, porém rocha, porém esteio, porém casamata onde me recolho e me vejo GENTE e me sinto amado! Mãe, meu amor maior... Meu amor único e inenarrável! Mãe! Mãe! Mamãe, te amo! A sua bênção!!!
Paulo Pazz