MINHA MÃE.
Saudade é memória, refaz, reedifica, mostra por nova construção a imagem do que se foi e não volta, não volta, mas pode ser visitada abrindo-se as portas do tempo, fazendo cessar os vestígios da ausência de visão que o sonho da saudade gera, o renascer, o parto da vontade de ver e viver de novo o que o tempo engoliu.
Nunca estive longe dela, em momento algum e, sei, ela está sempre ao meu lado, e a saudade não deixa o tempo passar.
Faz 36 anos que nos deixou para ir ao encontro dos céus de seu Jesus Cristo amado e venerado.
Todo ano DIAS DAS MÁES reitero meu último adeus nos locais onde escrevo , como abaixo lançado,
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Saudade.
Mãe, sem muita coragem escrevo-lhe estas linhas;
Flor do campo,
Brisa da manhã,
Verde dos vales,
Azul do mar,
Perfeição da natureza feita mulher;
Ontem meu reduto, largo abrigo, paz da aflição;
Hoje meu confessionário, proteção suave que brilha no firmamento;
Vida da minha vida, semente de meu pão, silêncio mudo de minhas súplicas;
Bonança das horas de angústia;
Teu nome a calma.
Teu sorriso a maravilha,
Tua presença a segurança,
Minha mãe, tudo do nada que somos, leito e estuário no sacrário dos sentimentos;
Pó da vida,
Vida das certezas, do desinteresse, da esperança;
Amplo abraço dos meus sonhos,
Café com leite das noites cansadas,
Espera sofrida da chegada;
Vigília do amor,
Saciedade dos desejos, desmedidas emoções;
Braços que se abraçam, mãos que se dão,
Ansiedade, saudade.
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Escrito uma semana após o falecimento de minha mãe, publicado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros, na antologia “A TOGA E A LIRA II”