A Telha da Lua

 

        Uma imensurável tristeza apoderou-se de mim no decorrer da semana passada.

Da varanda do meu apartamento, no décimo terceiro andar, eu sempre apreciei uma casa de um condomínio ao lado. É uma casa de boa estrutura, para mim ela devia até ter forro para não permitir a entrada de insetos e de poeira, mas não, acho que ela não tinha forro, pois em certos lugares existia duas telhas de vidro juntinhas; talvez o proprietário fosse tão romântico como eu, e gostasse de apreciar a lua quando na sua plenitude de altura.

     Eu gostava de ficar em minha varanda, deitado na minha rede, apreciando aquela casa com telhas de vidro no telhado e, sem pedir licença, me aboletava daquele quarto, tomava-o por empréstimo, logo aquele do lado esquerdo, e o imaginava com os mesmos móveis, e a mesma pintura do quarto da minha primeira infância, inclusive com uma lâmpada pingente de uma fiação bem no centro do ambiente.

     Deitava-me na cama e ficava a contemplar a lua, e viajava, viajava até a vilazinha de Amado Bahia, que fica a uns 70 Km de Salvador.

    Sentia o cheiro do quintal, cheiro de jasmim misturado com cheiro de caju, e imaginava a terrível escuridão que lá fora a tudo envolvia. Via a lua bem grande e nítida no céu, bajulada por um monte de estrelas que dizem ser mais brilhantes que ela. Estava sempre mais bela do que Sirius.

Eu passava uma bom tempo a contemplar tal casa e me transportar ao tempo de minha infância, até o apito do trem às vezes eu ouvia.

Aí eu despertava e corria para me arrumar para ir ao shopping tomar um cafezinho com pastilhas de chocolate menta na Copenhague.

        Hoje, quando cheguei a varanda não vi o meu quarto, e nenhum outro, estavam todos tomados por grandes placas para geração de energia solar. O Sol vingou-se indiretamente.

        Que teria acontecido com os donos da casa, será que deixaram de ser românticos e buscaram ser econômicos? Eu pagaria bem caro para apreciar a Lua de meu quarto.

        Da minha parte, continuarei deitando-me na minha rede, porém não sei se ainda terei um linque tão forte, o suficiente para me transportar a minha infância.

 

 

    

Luís Bacelar Vidal
Enviado por Luís Bacelar Vidal em 08/05/2022
Código do texto: T7511721
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