CRÔNICA DE VERA

CRONICA DE VERA

Abre a boca, antes que... você sabe! Assim falando, para que ninguém ouvisse nos outros apartamentos, a mãe de Vera, dizia sempre que Jonas esta com o pai. Jonas era hoje, um belo menino de 3 anos, parece que as crianças hoje, nascem diferentes, maiores, mais espertas, não sei... Vera era uma jovem, quase adulta, uma mulata, dessas carnudas. Quase 1,80 de altura. Antes de Jonas nascer, a pouco ela tinha se mudado com sua imensa família; 4 irmãs, um irmão, a mãe e o pai de Vera, que fazia por sua vez uns biscates como pedreiro. Vera parecia discreta. Passava pelas ruas do bairro novo de subúrbio, como quem escondia algum segredo. A esta época vez ou outra, haviam umas festas, meio funk ou sei lá o que, regadas a cerveja, e que ela e as irmãs faziam questão que os outros demais vizinhos do condomínio vissem. Deixavam as janelas escancaradas. Estranho foi quando chegaram. No primeiro dia, uma de suas irmãs, ainda adolescente, bateu a porta de dona Hilda para pedir para ferver a água para preparar café. Porquê estranho? Bem... dona Hilda, morava com dois filhos temporões, wagner e hellen. E dona Hilda era senhora pacata, mas no dia ou melhor noite seguinte, uma irmã de Vera que parecia revoltada, passou pelo corredor em direção a seu apartamento, furiosa, fazendo barulho e falando alto ABRE A PORTA e batia com força na porta. Helen que já estava dormindo, levantou se e abriu de soslaio a porta da sala e disse: Quer ajuda? Minha mãe não quer abrir... ao que Hellen retrucou: desse jeito só se estiver morta... disse isso pernóstica, ao que Wagner, ficou intrigado.

Voltemos ao presente. Antes relatarei mais um fato ocorrido em uma noite de embalos na casa de Vera, que quase nunca aparecia... o senhor de um andar adjacente apareceu derepente na janela e parece que viu uma das garotas (irmã de Vera) de calcinhas ou espartilho vermelho. O velho fechou a janela com um sorriso sacana, dia seguinte encerrava se sua vida de 80 anos em um tombo que tivera em frente ao supermercado do bairro, à calçada... vai entender? Mas vamos ao momento atual: Vera desaparecera por um tempo, e logo surgiria grávida, em embora no dito estado interessante, passava pelas ruas, mais empobrecida, de cara amarrada, mais que nunca. Bom, logo Jonas nascia. E em pouco o moleque já estava dando os primeiros passos pela casa, o apartamento alugado. Hellen e Wagner pareciam causar algum incômodo àquela família, pois ficavam cada vez mais barulhentos. Wagner, que inclusive não era de ficar na sala de TV, era o mais provocado. Geralmente depois das 22 horas, e cada vez mais grosseiramente... ouvia as vozes das garotas, sem saber de quem era a voz de quem... risos e piadas... hora ou outra uma risada algo maligna... depois, abrupto silêncio. Às vezes até depois da meia noite. E conforme Jonas ia crescendo ouvia eventualmente, choros e gritos, logo depois, riso de criança, como que provocadas por pelas tias ou mãe... com o passar do tempo a coisa já estava meio doentia, e Wagner chegou a pensar em maus tratos, enfim... vai ver, era paranoia. Mas de alguma forma parecia, que o condomínio de algum tempo, mais ou menos do nascimento de Jonas, pairava no ar um certo ar de medo consentido. Então começaram a acontecer mortes em outros apartamentos, pelo menos quatro, todos idosos... diziam que as mortes eram naturais, morte morrida mesmo.

Três anos passam rápido, e de qualquer forma é sempre bom ver uma criança crescer. Entretanto, Vera que era uma mulata, como já disse, vistosa, nunca mais pareceu a mesma... estava senão relaxada, triste... quase parecendo infeliz.

-conta pra ele! Conta o que, mãe? O cara é um maluco! Então pra que perturbar as pessoas, só porque você botou esse garoto no mundo, pra se parecer com uma pessoa honesta, por causa da opinião dos outros...

Dia seguinte, Wagner que estava em momento difícil na vida, saiu logo após sua irmã Hellen, sair para comprar pão. O mesmo silêncio habitual nos corredores pela manhã, só quebrado pelo extremo ruído de portas de lixeira batendo com força. Na volta encontra Vera dentro de um carro velho, com um cara que parecia ser o pai de Jonas. Parecia estar chorando, e o pequeno Jonas, assustado. Vera esconde o rosto entre o console e o para-brisa do automóvel velho. Uma semana depois, o barulho persistia, e as vezes parecia ouvir coisas sobre sua própria vida, a dele, Wagner, serem contadas em voz alta na casa delas, Vera e sua família. Ela não abriu a boca. Diz pelo bairro que Vera e mais uma brasileira sem esperanças...

Que Jonas cresça, não é mesmo?

Wanderlei junior

09-10-2007