Congonhas

Que eu estou de mal de mim mesma e que faz tempo, isso eu já sei. Mas consegui fazer uma coisa que parecia impossível então o saldo está ficando menos negativo pro meu lado.

Apesar das minhas paranoias e rancores me atormentarem o dia inteiro, tem algo na minha criança interior que ameniza tudo isso.

Trabalho próximo ao aeroporto de Congonhas; próximo de ver os aviões decolarem mas não tanto ao ponto de reclamar do barulho. A vista é boa. No meu local de trabalho há paredes de vidro e dá pra ver tudo e isso é um avanço pois na minha antiga sala eu não tinha nem janela... E nem vida. Hoje consigo ver como está o tempo, se está chovendo e mesmo num dia caótico o azul do céu ou mesmo o cinza das nuvens me acalmam com a imensidão deles. E claro, aviões.

Mesmo eu sendo uma pessoa realmente difícil, sempre solto um: "Boa viagem, vai com Deus" na hora que vejo um avião passando. Amo viajar de avião e vê-los todo dia me dá a sensação que estou indo junto com aquelas pessoas. Fico imaginando se é primeira vez que estão no ares, se é uma realização de sonhos, negócios, aquela promoção de madrugada que teve uma baita sorte... Também penso se é pra visitar parentes, dar aquele último adeus ou assinar os papéis póstumos. Aí eu choro. Sim, eu sou ansiosa. Viver é ansiedade.

Mas minha criança interior sempre pensa nas primeiras possibilidades de divertimento e aventura. Como gostaria de colocar isso pra fora, mas minhas neuras não deixam. Elas têm a chave. Um dia me liberto. Vou voar.

Têia Agridoce
Enviado por Têia Agridoce em 06/05/2022
Reeditado em 06/05/2022
Código do texto: T7510295
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