Sem definição
Certas vezes, me percebo como se estivesse no espaço. Perdido, sem rumo, sem enxergar o horizonte. Oxigênio quase no fim, pontos brilhantes distantes, destino ignorado. Sim, exatamente dessa forma, olhando para a frente e sem visualizar o ponto chave, o destino, o ideal ou o que se assemelha a ele. Sem conseguir traçar metas, sem definir objetivos. Vagando, inerte, sem que nada externamente me abalasse. Como se vivesse em um plano exclusivamente montado para mim, como se bastasse percorrer círculos e rotas planejadas diante da minha própria insignificância. E sem GPS recalculando a cada erro de percurso.
De certa forma, todos somos assim. Em determinado momento de nossa existência, o sentimento que perdura é o da falta de explicação para perguntas que não se possuem respostas. O que estou fazendo aqui? Qual o significado do que faço, ou do que sou, ou do que quero? Ou, pior, quando nessas perguntas, exigimos respostas binárias; simples como um não, ou sim.
Há complexidade na existência, independente do tamanho do cerco, do tamanho da dimensão que definimos - ou que percebemos. Me refiro a pequenos universos que impomos a nós mesmos, assim como o que existe de verdade. O ponto chave é conseguir perceber, observar os pequenos territórios, as pequenas limitações que existem em um universo sempre em expansão. E essas limitações são observáveis, ou não. Independente desse aspecto, sabemos que existem. E devemos construir pontes, interligá-los. Assim como cabe a cada um topar encarar uma viagem interplanetária dentro da própria existência e pagar o preço de viajar por anos-luz dentro da galáxia denominada vida. Topando visitar, mesmo que momentaneamente, algum desses outros planetas vizinhos.
O que é triste é perceber que algumas pessoas sequer imaginam que existem planetas ao nosso redor. Mais triste ainda é perceber que pessoas desperdiçam toda uma existência achando que são o centro da galáxia. Limitam demais o seu universo observável. Conheço algumas em que seu universo se resume à sua casa, ao seu trabalho. Ao seu smartphone. Outras se dão ao luxo de percorrer um pouco mais e conseguem entender que existe uma cidade, que existem pessoas compartilhando a mesma galáxia em que vivem. Outras, um pouco mais conscientes, entendem que estamos todos interligados por um mesmo ideal, que não somos isolados, e quando falo isso, não me refiro a tecnologia, a economia, a transações bancárias, nada disso; existem ligações intrínsecas, que por analogia, denominaria como interplanetárias, e se aplicam a nós. Assim como os astros de maior massa atraem os menores. Os seres de maior dimensão acabam atraindo os menores. E todos, independente da percepção e do entendimento, dançam, viajam, vagueiam por esse plano, ligados a uma força invisível que nos mantém em uma órbita.
Existem aqueles que se denominam como o próprio universo. Que pensam que tudo e todos os demais orbitam em seu espaço. Ledo engano. Imaginar que somos maiores do que realmente somos, principalmente quando utilizamos artifícios medíocres como meios de comparação, é um dos maiores erros que cometemos. Mas o tempo e a vida não param, não esperam pela decisão, pela lucidez de cada um. A vida não perdoa. Não espera parada pelo nosso tempo. É como descer uma ladeira de bicicleta, ao mesmo tempo em que vai colocando as peças em seus respectivos lugares. Torcendo para, no final da ladeira, ter dado tempo de ter instalado os freios.
Às vezes me pego como se estivesse vagando, sem observar o horizonte, perdido, sem conseguir entender o que está faltando, ou sobrando, e de certa forma tem distorcido essa força maior que cria as ligações entre nós. Na verdade, eu até sei. Sei o que é, qual é esse combustível. Invisível, inodoro, que às vezes colorimos como forma de representá-lo para as pessoas entenderem o que, de fato, é maior que nós. Sinto que, a cada dia que passa, esse combustível que abastece nossos propulsores tem sido cada vez mais raro, cada vez mais falho, cada vez mais tolhido, mais caro, mais confundido. Substituído por outros, misturados, batizados, que emperram nossas engrenagens, fundem nossos mecanismos. Parafraseando Gessinger, apenas uma frase me vem nesse momento, em que busco uma explicação, uma saída: há muito já não somos como já fomos.