NOBRES JULGADORES - (Postada no jornal Tribuna do Pampa)
Uma coisa é você achar que está no caminho certo, outra é achar que o seu caminho é o único. Nunca podemos julgar a vida dos outros, porque cada um sabe da sua própria dor e renúncia. (Paulo Coelho).
A perda de nossos sentidos de bondade está relacionada na maioria das vezes, com o que vemos ou sentimos de outras pessoas. Por que fazer por ele se não haverá retorno? Precisamos que haja sempre uma recompensa sobre nossas nobrezas, e isso dependerá do que o outro pensa em relação à devolução ou pagamento dessa dívida criada apenas em nossa cabeça. Concordo que gratidão é um ato moral, mas se fizermos algo a alguém esperando homenagem de agradecimento, então, melhor não fazer. Então serei insensível? Talvez... quem poderá julgar?
Em que momento perdemos nosso instinto de humildade? Que passo na história nos deixou tão abalados psicologicamente que nos faz pensar em coisas ruins sobre quem faz coisas que achamos ruins. Qual vírgula nos enviou para o lado errado fazendo com que qualquer um possa ser um juiz que condena qualquer ato de qualquer pessoa sem nem ao menos conhecê-la?
Ah, sim! A internet facilitou tudo. Escondo-me atrás de um pseudônimo e tudo bem, sou o rei da sabedoria, o dono da verdade. Não é apenas isso...
Somos ávidos para julgar e lentos para acolher. (Augusto Cury)
Não é admissível julgar alguém, isso é uma abstração. Cada pessoa observa o mundo a partir de seu ângulo. É como se cada um de nós tivesse uns óculos que impusessem essas lentes para toda relação existente (e até, quando olhamos para dentro de nós mesmos).
É como se ao julgar o ato alheio, tirássemos um peso inexistente das costas nos colocando num patamar de superioridade sem sequer saber a verdadeira razão.
Do meu ponto de vista, cada percepção traz uma nova interpretação: nesse caso, posso me esforçar muito para compartilhá-la, no entanto, será conforme a minha narrativa. O outro não terá a mesma visão, não absolutamente, talvez se esforce muito para equilibrar os pensamentos, mas nunca será igual.
Sem perceber, estamos ficando iguais àqueles que julgamos, talvez, até piores. Dormir pensando em alguém que nem sabe que você existe, é sim, olhar para o abismo, é deixar que o monstro interno prejudique nossa alma, é sofrer sem necessidade.
O fato é que fazer parte do tribunal “humano” e ficar contente por fazer parte de um julgamento de qualquer um que “erre”, parece ser bem agradável, contudo, quando estivermos sentados no banco dos réus, estaremos preparados para sermos julgados?
A escritora Karen Berg define com precisão uma forma de não julgarmos os indivíduos:
"Antes de julgar alguém, tente caminhar uma milha com os seus sapatos. Você pode simplesmente mudar de ideia".
É o simples fato de se colocar no lugar do outro e entender que as alegrias e principalmente as tristezas afetam de maneira diferente a cada ser, e principalmente, chegar à conclusão de que se o outro faz diferente e é feliz, o problema é único e exclusivo dele.
No fim, cada um sabe o que há dentro de si. Dores e alegrias são componentes de cada ser, não cabe a nós julgarmos o que é certo ou errado.