O Chute

É verdade que te chutei...

Mas você lembra: Nosso começo foi incrível! Maravilhoso!

Você me cativou e eu me aprisionei em teu sabor!

No primeiro encontro nasceu a paixão.

Tua forma arredondada…: volúpia!

Tua pele lisa…: carinho!

Tua cor clara…: Tentação!

E a tentação foi muto forte. Não resisti. Sucumbi à vontade de te possuir.

E você se deixou possuir.

Prefiro as morenas, mas tua pele clara despertou em mim uma vontade irrefreável!!!

Quase insaciável!!!

Claro que o início foi tímido.

Primeiro te admirei. Depois passei a mão, acariciando tua forma arredondada.

Mesmo assim, um gesto ainda tímido.

Mas você não recusou. Você como que se oferecia a mim. E assim continuamos, como se tivéssemos feito um acordo mudo!

Você ainda era bem nova. Lembro que você usava uma roupa esverdeada, a qual tirei com todo cuidado para não te ferir. Era tua primeira vez!!!

Você nua, comecei a te apertar!

Muitas vezes beijei tua boca úmida.

Eu te mordia e você, cada vez mais, se dava.

Uma loucura!!!

O primeiro beijo foi indescritível… Minha boca em tua boca…: estremeci… enquanto te apertava em minhas mãos. Com isso volúpia me subiu à cabeça…

Você se dando, eu não sabia nem queria mais nada. Queria apenas te apertar, te beijar, te morder, te sugar…

Eu te chupava e você se dava!

Aquele teu corte, que eu acabara de abrir, era todo meu!

Você era completamente minha.

Eu te possui! Inteira! Inteiramente!

Não sei por quanto tempo permanecemos assim. Só sei que quanto mais eu te chupava, mais você se dava. Você se entregava por inteiro.

Minha boca em tua fenda úmida, fonte de minhas delícias, era algo divino, pois você se dava inteira.

Quase enlouquecido de prazer, eu te apertava, beijava, sugava…

Chupava intensamente… Uma delícia, uma sensação indescritível de prazer…

Mas o tempo passou.

Não sei quanto tempo, mas passou.

Só sei que depois de muito te apertar, morder, beijar, chupar… depois que você já tinha se dado toda… você estava murcha… não tinha mais a beleza das formas do nosso início.

Não tinha mais aquela beleza nem o mesmo sabor do início!

Assim, murcha, você já não me servia mais.

Eu entendo e sei que você ficou magoada. Afinal de contas você havia se dado inteiramente somente a mim. Mas eu já estava saciado. Teu prazer havia me dado satisfação. E agora você não mais podia me dar prazer: estava murcha!

Por isso não te queria mais.

Por isso o último beijo.

Por isso te joguei para o alto.

Por isso no ato de te jogar, te dei aquele chute, minha doce laranja murcha, meu bagaço de laranja.

(extraído de: CARNEIRO, Neri de Paula. Filosofia dos muros. Rolim de Moura: Pontual, 1999.)