A Farsa
Eu sou uma farsa. Bem grande. E a maior farsa sou eu comigo mesma. Vivo imaginando acordada que um dia irei liderar uma banda, de cabelo comprido, magra e com um macacão mostarda, cantando letras autorais e o público gritando junto com lágrimas e sorrisos. Na vida real sou tímida, estou gorda num ponto que nenhum macacão fica bem em mim e minhas letras ninguém conhece e não são emocionantes assim. Nem tenho amigos músicos. Aliás, nem tenho amigos. Meu círculo de amizade são três mulheres completamente diferentes as quais às vezes tenho conversas profundas. Faz tempo isso.
Hoje choveu e entre sair com guarda-chuva que detesto e comer na lanchonete caríssima que tem na empresa, comprei o lanche mais barato e comi na escada.
Ou seja, farsa completa.
Me esforço pra fazer amizades? Não.
Tô indo na academia? Até que sim mas acabei de devorar um pão de mel.
Comecei aula de canto? Não.
Cortei o cabelo uns meses atrás e mesmo comprando vitamina, tônico, shampoo... Vai demorar. Sou chata, teimosa, rancorosa, medrosa, melindrosa, estúpida, grossa, apática e rígida. Comigo e com outros. Ainda assim, no final do dia, pego meu fone azul, coloco minha música preferida e me vejo no palco. Me vejo com gente. Sorrindo. Perdoando. Cedendo. Gentil. Calorosa.
Que fardo é ser farsa.
Que fardo ser eu.