Eu só cruzo a linha de chegada
Os meus melhores escritos, já notei, saem de mim quando eu estou triste. Parece que a tristeza foi sendo a essência da minha boa literatura, então eu chego ao fim desse texto, sem profundas reflexões, sem frases de efeitos aqui e ali. Não derramei nele minha alma que nitidamente habituou-se ao ofício ingrato de sublimar dor.
Não despejo aqui a força que eu encontro ao final de todo processo dolorido, eu nem mesmo sinto mais o processo, parece que ele passou por mim e de maneira imperceptível fez uma couraça, igual carapaça de besouro feio.
Alheio aos olhares que me lançam, eu só caminho despreocupado, mais que distraído sobre meu próprio destino, porque eu consigo ver de forma nítida a linha de chegada e, os que me circundam parecem ignorar o material de que é feita a couraça que me cobre, sobretudo eu desconheço a capacidade de resistência dele, de modo que vou andando apesar de todas as investidas e tentativas daqueles que batem nela na esperança que ouvir o 'crack' que comunica que o material foi partido...o 'crack'não vem...eu nem mesmo me espanto...
Eu só cruzo a linha de chegada.
(Texto antigo)