CHUVA DE PRATA
Chuva de prata é o nome de uma música. É também, e eu não sabia, o nome de uma planta e a marca de um espumante. A pesquisa revela outros significados menos poéticos e bem mais vulgares. Escolho o que me agrada. Há alguns dias a música, sabe-se lá por que, grudou no meu pensamento. Na verdade, emergiu das lembranças enquanto contemplava as modificações que o tempo me trouxe. Por causa da pandemia já faz mais de dois anos que não tinjo o cabelo e admito que o resultado me agrada, não pela onda de grisalhas que nasceu durante o recolhimento. Não faz diferença para mim que detesto as modinhas e acho que cada um deve escolher o que mais lhe agrada. Quando me olho no espelho ou que alguém faz referência à tonalidade que os fios adquiriram, gosto. Gosto muito e várias imagens já me vieram a mente: como embranqueceram junto ao rosto, e na parte de trás vários fios negros ainda resistem, pensei que aceito a nevasca de frente ou ando com a cabeça mergulhada na Via Láctea. E gosto. Aos 63, me sinto cada vez mais confortável na “pele que habito”. Para um texto de referências, impossível não pensar no “nome das coisas”, a palavra que me habita, o discurso que diz de mim.
“O coração do mundo canta em meu coração
Meus pés seguem sozinhos a dançar
Eu não conheço em mim a grande dor da solidão
Se em tudo eu encontro o dom de amar”
(Pelo amor de amar - Ellen de Lima/A pele que habito - Pedro Almodóvar)