Se o amor fosse palpável...
De que formato você cria o Amor na sua vida ? Como você o visualiza? Como você o constrói nos seus relacionamentos? De que material ele é constituído?
Acredito que quando surgimos como seres vivos no Universo recebemos de presente de Deus além da oportunidade de corrigir nossas falhas a cada reencarnação, algo extremamente divino: Uma matéria-prima especial para produzir Amor.
São ingredientes divinamente preparados e especiais para inventar a forma para amar e o livre-arbítrio de criá-lo, produzi-lo e cultivá-lo durante todas as nossas vidas. Como cada ser é maravilhosamente único, cada um quando opta por produzi-lo o faz do formato que deseja.
Algumas pessoas o criam de uma só cor, ou então, revigorado por um exuberante colorido; uns, o criam sombrios, outros, vibrantes.
Há seres que o fazem leves como sementes a planar no vento.
Existem criações tão pesadas como metal, frias, gélidas. Outras, nobres ou nâo, detalhadas ou não, incrustadas de opulências materiais ou simplesmente recicladas das lembranças ou amores que foram vivenciados.
Têm aqueles que se quebram com choques e intempéries e jamais são recuperados, revestidos de ressentimentos e desilusões, contatos que agridem, ferem o espírito e que muitas vezes, fazem o Amor ser jogado ou esquecido em algum canto deste mundo até definhar.
Têm seres que o criam só um formato de Amor na vida. Outros , centenas e até milhares de vezes, de todas as formas e cores, de todos o tamanhos, de todas as mobilidades.
Uns, duram a eternidade, outros, alguns instantes, simples momentos com intensa volubilidade, e que de repente começam a florescer e crescer depois de algum tempo, em outras encarnaçôes.
Há casos que o faz infinitamente grande, o bastante que nem conseguimos imaginar seu tamanho.
Têm aqueles que por insegurança de o perdê-lo, o inventam de formas inquebráveis, às vezes pesados que jamais se movimentam sem possibilidade de relacionar ou tâo minúsculos que poderão ser carregados para todo lugar de maneira que nunca possam ser vistos ou tocados.
Uns, o inventam no formato estático, sensivelmente delicados e frágeis que a qualquer tormenta e até mesmo ao mais suave ruído ou toque se desfazem ou trincam, quebram, como um tilintar de fino cristal.
Outros, o mantém cativo com medo de desaparecerem ou deteriorarem com a vida, com medo de serem roubados ou abandonados.
Têm aqueles que o faz de forma esférica para que sua beleza e luminosidade seja compartilhada com o mundo, rolando pelo Universo.
Existem aqueles que por medo de perderem sua ilusória liberdade para o Amor fingem para si mesmos a sua construçâo, criando para isso um oceano de desculpas incabíveis, se escondem atrás de outrem para nâo assumirem sua autoria sobre o que realmente representa para si próprios o formato do Amor, ou simplesmente por não terem inconscientemente assumido a autonomia de exibir suas emoções perante o mundo.
Há os que depois de quebrarem tantas vezes seu formato de Amor durante suas vidas, os consertam, os refazem com pequeninos pedacinhos colados de diferentes maneiras seu quebra-cabeça, tesselas ligadas por betume ou cimento, alteradas pelas experiências, sofrimentos, intempéries, quedas, agressões que causam trincas, infiltrações, cortes e fungos nas vidas, marcas que criamos em nosso perispíto, por lições escolhidas livremente, alquimias desequilibradas da fórmula usada, refeitas e reexperimentadas tanto quanto às nossas aprendizagens que vão ficando mais resistentes, mais aderentes às modificações impostas, mosaicos das vivências, tesselas luminosas de momentos vividos que enfeitam a vida, surpreendem quem amamos com esses cacos de carinhos que apesar de serem atitudes quase sem valor, humildes e de uma simplicidade luminosa, criam o encanto e a cumplicidade que nos fazem brincar como crianças, enxergar com mais brilho e vivacidade tudo que nos cerca desvendando a magia e o tempero certo de nossas relações, deixando nossas vidas cheias de surpresas e paixão. Um verdadeiro mosaico feito de Amor!
Mosaico, para quem ainda nâo sabe o sentido literal desta palavra, é uma forma de arte decorativa que utiliza tesselas ( tessela , uma palavra romana (tessera ou melhor, tesserae), que significa “cubo”), encontradas na história desde o séc. IV a. C., descobertos na Ásia Menor e na Antiga China e difundida pelo mundo inteiro com inspirações Clássicas, Bisantinas, Mexicanas, Islâmicas, Orientais e Modernas .
Movimentamos nossos formatos de Amor em busca da trocas de materiais e experiências, interagindo-nos. Podemos provocar choques violentos ou encontros delicados e deliciosamente proveitosos. Nos encontros trocamos tesselas delicadas, coloridas e nos ajudamos ou nos agredimos mutuamente.
Estas trincas, infiltrações e fungos que descolam os pedacinhos de Amor são originadas dos fardos de mágoas e ressentimentos que não foram perdoados, que insistimos em carregar. Falhas que cometemos em diálogos rotineiros, coisas que deixamos de dizer ou as falamos nos momentos mais impróprios, e pior, tudo isso é conseqüência de não repararmos nas nossas próprias emoções perdendo a habilidade de interpretar a docilidade das palavras ditas, de perceber o paladar delicado e agradável de nossas vivências positivas, desviando negativamente o sentido das expressôes, deixando-as com sabor de intemperança e fel, deixando tudo que é negativo na relação esconder o que foi realmente feliz, criando vinganças medíocres sem comprovar motivos reais, dores alimentadas que nos desequilibram e nos direcionam muito longe do alvo da felicidade. Na maioria das vezes acontecem por nós sermos orgulhosos demais pra assumirmos nossos erros, que somos imperfeitos ! Enxergamos nossos próprios defeitos no outro, tornando-nos parecidos e assim, pensamos que não existem mais nenhuma afinidade, nenhum motivo pra mantermos as trocas de cacos de Amor. Não somos impecáveis! Se Sócrates um dia falou que “tudo que sei é que nada sei “, porque temos que acertar sempre?
Achamos que todos têm a obrigação de adivinhar as nossas “entrelinhas” e que muitas vezes esquecemos que as palavras também têm sabores e em nossa linguagem, muitos antônimos.
Criamos um cimentocola e uma argamassa forte para aderir os cacos com a matéria-prima perfeita que Deus nos deu. Para aderir os pedacinhos de carinhos e de atenções, estes são elaborados com grande poder de aderência através dos percentuais, cola vinda da tolerância, do tempo, da dedicação e do diálogo investidos na fórmula. Deus somente deu os ingredientes sem nos dar o formato de Amor ”feitinho e perfeitinho” para que pudéssemos aprender a nos conhecer. Cada um de nós experimenta a mistura da sua fórmula de colagem milhões de vezes tentando equilibrá-la conforme a necessidade do material carinhoso que temos no coração. Quando usamos desequilibradamente estes ingredientes ou quando nos esquecemos de adicionar algum ou mais destes produtos divinos ou erramos a quantidade destes, quando nossos defeitos morais são solventes mais fortes que estes, a cola pode não aderir bem as tesselas ou produzir pouca ou nenhuma flexibilidade na forma do Amor. É esta flexibilidade que torna a relação mais forte para deixar o percurso de nossas provações e expiações mais leves.
O formato que mais acredito e que visualizo o Amor é esférico. Acredito que foi assim que estou montando o meu formato, aliás, aprendendo a montá-lo.. Talvez, até por movimentá-lo tanto neste nosso Universo, ele foi ficando arredondado, rolando de um lado para o outro, devido a erros e acertos, falhas e eficácias, defeitos morais e aprendizagens, tantas e tantas vezes.
Como minhas tesselas foram picadas e descoladas quebrando meu formato de Amor inúmeras vezes pelo meu mal uso durante minhas vidas, pelas alquimias inadequadas das colas que usei e pelas quedas que sofri, a peça acabou virando um mosaico colorido e artístico. Com o tempo, o formato do Amor está sendo transformado, aparado, lixado, polido, as saliências pontiagudas estâo sendo desgastadas, novas fórmulas de colar as peças que faltavam e estavam quebradas estâo sendo experimentadas, inventando e pesquisando como utilizar os ingredientes que Deus me deu. Ainda estou curando seus fungos, minhas dores, colando as que descolaram, livrando-me da poeira que desbota suas cores e brilhos e criando desenhos de carinhos e atenções que ainda não compartilhei. Enfim, chegará um dia que meu mosaico estará cheio de luz! Camadas de Amor!
Minhas tesselas são pedaços pequeninos de carinho, dedicação que tentei usá-los para despertar no outro a vontade de amar e formar a sua Peça do Amor, pedacinhos das experiências quebradas que reutilizo no dia-a-dia para acabar com atitudes rotineiras que ainda destroem minhas relações, capaz de nos arrastar para o lodo das mágoas. Já fui lá e sei que não quero mais retornar.
Estes pedacinhos de Amor, pequenos manifestos explícitos do que sentimos e que nos fazem felizes a cada doação, a cada troca, a cada contato, nos deixando mais luminosos, simplesmente porque voltamos a ser crianças, sem medo se estarmos sendo ridículos ou não, sem medo do que vamos realmente encontrar pela frente.
Como a minha e de muitas pessoas deste Universo, minha forma de Amor ainda não está pronta. Demorará muito ainda para que eu fique perfeita, pois todos nós somos cheios de defeitos, de vícios, de erros cometidos. Estou limpando minha mente das mágoas e ressentimentos, aliviando minha carga, desentulhando minha vida de lembranças guardadas que não trazem valores morais.
As atitudes positivas que tomei nas minhas vidas são tesselas que colo no meu mosaico esférico para colori-lo ainda mais, torná-lo mais brilhante, maior, mais móvel, espalhando ações benéficas para que esta estadia espiritual seja para todos nós um lugar de aprendizagem, corrigir meus atos egoístas ou arrogantes pra que eu possa chegar a amar incondicionalmente um dia. Estou aprimorando meu formato a cada dia, acrescentando sentimentos . O meu ontem são experiências que aprendi com os meus erros e serviram como lições, dolorosos ensinamentos que me faz mais forte, mais amorosa, mais sensível ao meu lado espiritual para buscar meu crescimento e chegar ao amor incondicional na outra dimensão.
Alguns amam demais, outros, de menos. E quando estes se encontram, o que ama demais assusta o que ama menos, e este, não agüenta e se afasta sentido culpa, rancor e raiva, não sabendo lidar com estas emoções, algo tão grande. Sou alguém que ama demais. Um dia todos os formatos de amor serão grandes, fortes e iluminados. Todos saberão aderir os cacos e amar de forma intensa e incondicionalmente. Aí, todos estaremos aptos para “Trikkum olam, isto é, (em hebraico), “juntar os cacos”e encontrarmos na luz o Amor!
20/09/2006