HORIZONTES DA LEITURA
Escrever é quase como andar às cegas por ruas, estradas e trilhas desconhecidas, tantos são os tropeços e as surpresas encontradas nos caminhos. E a cada obstáculo ultrapassado, a cada armadilha desmontada, quando o escritor, no ápice de sua imaginação, contorna as arestas, desvia dos óbices e caminha em terra firme e tranquila, assemelha-se a caírem as escaras dos olhos e, então, ele pode enxergar com nitidez e descortinar os embaraços. Até que na metade ou em parte da jornada novamente torna a ter a visão embaçada por novos e múltiplos desafios a serem vencidos.
Ao escrever, o autor se depara com uma maratona da qual não pode nem deseja sair, não será o cansaço físico ou mental que o fará desistir de expressar seus sonhos e sua criatividade inventiva. Ressaltemos, aliás, o quanto é prazeroso para ele se esforçar no intuito de ser o primeiro lugar nessa corrida, de ultrapassar a linha de chegada e, feliz e realizado, exprimir a alegria de ter conseguido atingir seu intento.
Não existe vocação mais interessante, bela e atraente do que a de ser um escritor, chego a pensar. Talvez outras se assemelhem, contudo não devem ter o utópico ar de constante devaneio, aquela maravilhosa atmosfera de sonhos alucinantes em desencontros, de romantismo extraordinário, de muitas vidas se aglutinando em dubiedades, de confrontos contínuos entremeados por sentimentos controversos e excitantes. No campo da arte literária, a vida com seus diversos contornos lateja e vibra, sofre, sorrir, chora, ama e odeia. Impossível o livro, escrito de forma persistente e dedicada por seu autor, não transformar de alguma maneira o olhar dos leitores. O normal é ninguém ser o mesmo nas ideias e pensamentos depois que envereda pelos horizontes da leitura.