silêncio invisível
Ela: O meu silêncio te incomoda?
Ele: Deveria?
Ela: Não.
Ele: Então, porque você pergunta?
Ela: Talvez porque me sinta um incômodo tão grande que até meu silêncio pode incomodar os outros. Às vezes acho que deveria sumir, já que tenho até dúvida sobre o que acabo nem dizendo. Não digo nada. Às vezes me acho tão insignificante que até meu silêncio pode ser um estorvo. Maluquice?
Ele: Não, só falta de amor próprio. Mas não é culpa tua. É culpa do amor guardado dentro daqueles que te amavam, mas escolhiam não dizer ou demonstrar com afeto. Você cresceu achando que você deveria passar desapercebida. Deve ser porque o amor era secretamente escondido em algum álbum de fotografia. Esqueça tudo isso. Faça qualquer som, mesmo que seja um som de partida.
Ela: Tá bom! Não estou perdida, só tenho medo do som do que pode ser dito. Temo ter que assumir o que atravessar à fronteira entre o que penso e sinto. Temo me achar um blefe, um flerte efêmero e que realmente não tem nada a dizer. Embora nada disso do guardo em mim é novidade. Pelo contrário, já sei há tempos que me calo para manter a ordem. Não criar rupturas ou desagrados. Sou apavorada com os conflitos. Omito-me para preservar o conhecido. Tenho medo das partidas. Não faço ideia para onde elas podem me levar. Prefiro manter o silêncio já que ele é um conhecido. Desculpe-me por não agir. Sinto que escondo meu próprio sim. Tenho medo de ficar solta e nunca mais voltar. Tenho esse medo de falar comigo mesma que preciso de amor. Se disse isso receio soar um som bobo. Tenho medo de parecer boba. Bobagem, né?
Ele: Bobagem é prender o silêncio. Fala o que você sente e fim. Será o começo de uma revolução. A revolução dos bichos e monstrengos que vivem dentro de ti.
Ela: