REVERBERAÇÕES
A concha me acompanha há muitos anos, é linda. Sempre enfeitou algum ambiente da minha casa, segurou portas às vezes, ante ventos deseducados.
Mostrei ao Matias que o mar soa dentro dela, assim como me ensinaram no passado. Ele ficou encantado, ouvindo o mar dentro da concha.
Um dia, não muito distante, ele descobrirá que nem tudo é como nossos antepassados fantasiaram, mas que nas fantasias sempre há a reverberação de sons da realidade.
No caso, o formato de tímpano no interior da concha acumula os ruídos em torno e reverbera como se fosse o barulho do mar, mas reproduzirá mais intensamente e eternamente a minha voz nas lembranças dele.
Em coisas assim residem as marcas familiares, as boas lembranças, os sons e imagens do passado. Feito as castanholas de minha avó Bienbenida, que ressoam nas paredes da minha casa e nos labirintos da minha lembrança.
Dalva Molina Mansano
28.04.22