TUDO IGUAL E, NO ENTANTO, TÃO DIFERENTE
Todos nós, há três anos atrás, tínhamos uma vida difícil ou não, agradável ou desafiadora, mas com múltiplas atividades rotineiras. Para o cérebro a pandemia mudou tudo o que diz respeito a isso.
Primeiro elevou o grau de ansiedade, devido ao vírus desconhecido e ao medo que ele gerava. Depois vieram as desagradáveis medidas preventivas, como o uso de máscaras e higienização das mãos com álcool gel. Tivemos de adaptar nosso cérebro a esta situação, e aos novos requisitos, para ficar longe da Covid.
Nossa vida emocional deu um cavalo de pau e gerou o caos dentro de nós. As mortes de conhecidos começaram e veio o medo de que acontecesse o mesmo conosco. Os mecanismos de defesa da nossa psiqué tiveram que fazer malabarismos para equilibrar, mesmo de forma instável e transitória, o nosso comportamento e nossas emoções. Abrimos os armários virtuais dos talentos e começamos uma caça desenfreada por eles, como tábuas de salvação.
Falo por mim, aos 84 anos, mas fico imaginando um adolescente que começou a pandemia com 15 e está saindo agora com 17. Nesta idade há grandes mudanças físicas que influenciarão no convívio social e na aceitação, ou não, no grupo a que ele pertence. Sua estrutura emocional pode ser comparada ao esqueleto de uma criança, que está começando a crescer. Ainda instável e frágil.
Pode ser que o mundo, como a geografia descreve, não tenha mudado. Mas eu duvido que, entre os seres que nele habitam, tenha um sequer que permaneceu o mesmo.
A saúde mental dos extremos, jovens e idosos, foi a mais afetada. Os primeiros por terem convivido com a ameaça antes de que sua estrutura emocional indicasse, para ele, o conhecimento de quem ele era e o que queria da vida. Os últimos porque suas expectativas de vida foram dramaticamente encurtadas.
Antes da pandemia os dois grupos permaneciam mais na rua do que em casa. Os jovens para estar com sua turma e os idosos para aproveitar a vida social, enquanto a saúde permitisse. Com o isolamento da quarentena, no começo dificílimo para todo mundo, esta regra se inverteu. O perigo estava lá fora. Será? Eu me pergunto agora. Qual a consequência pior, para o nosso emocional? Ficar livre do contágio e não ter a doença, ou entrar na solidão sem convívio e troca de ideias, conversa fiada?
Provavelmente o desafio maior do século XXI será a descoberta de uma vacina que nos devolva o nosso mundo perdido e a nossa saúde emocional.