Datilografia
Imaginar alguém frequentando curso de datilografia no início dos anos 2000 é algo anacrônico. Eu, que não sabia disso na época (nem sabia que existia uma palavra como "anacrônico"), impelido pela promessa da professora do Projeto Pescador, de que os alunos que se formassem em datilografia fariam depois um "curso de computação", segui batendo máquina por vários meses. Junto a uns 15 outros adolescentes, enchi resmas de papel com sequências de letras tais como ASDFG ÇLKJH e frases como "O Padeiro Prepara a massa Própria e Perfeita Para o Pão", a fim de fixar na memória de cada dedo sua tecla/letra correspondente. Apesar da truculência das máquinas Olivetti, que gostavam de morder com força os dígitos desavisados, até que não era ruim. Havia a bagunça com os outros moleques, especialmente antes do portão abrir, quando a gente escorregava morro abaixo pela grama usando pedaços de pepelão. Tinha o som constante das teclas, um barulhinho bom que vários anos depois, junto a outros tipos de ruidos agradáveis, se tornaria popular no YouTube e seria chamado de ASMR. Se alguém tivesse me perguntado na época que nome dar àquele som, talvez eu chamasse de ASDFG.