A jornada

De vez em quando acontece, vem a insônia brava, uns falam:

--- conte até 100, senta na cama, procure fechar os olhos e não pense em nada, (como se fosse possível) dizem que alguns monges conseguem, ah! Então eles dormem o sono dos deuses! Das recomendações que descartei de cara foi de tomar remédio para dormir.

Com insônias e mais insônias, me conformei, agora já aposentado, com salário bem reduzido, (a grande maioria dos aposentados) no momento algumas insônias não me afeta tanto, pior quando estava na ativa, trabalhar numa gráfica, onde rodava um jornal importante da cidade, a ida religiosamente ao trabalho, nada de faltas, nas doenças, só atestados médicos seriam válidos do contrário com direito a descontos. Mas não devo reclamar, tive um patrão severo mas dos bons, só franzia um pouco a cara, quando eu tinha de fazer horas extras em outras gráficas, pra cobrir os meus ganhos, sabe como é né? Naquela época os 5 filhos pequenos, entretanto ainda consegui continuar os estudos de segundo grau no noturno, aguentava bem os trancos, com meus trinta e poucos anos.

Deduzindo tudo isso agora tiro de letra quando as insônias aparecem, até dá pra iniciar alguns textos, deu pra um bom começo nos meus livros e tem mais, quantas vezes é nelas que me considero viver num paraíso, lembrar de quantos sofrimentos os meus irmãos seres humanos sofrem e sofreram nas mãos de ditadores cruéis. Já sei, aqui no Brasil também tem sofrimentos, mas acordar de manhã e ver esse sol, tão brilhante parecendo que só nós é que somos privilegiados, recebe os bons dias de pessoas, nas caminhadas livres nas manhãs tão encantadoras, os rostos de transeuntes de aparências tão cativantes.

Folheando umas das seleções de março de 1999, tomei conhecimento da história da Luba Gercak, uma polonesa que viveu numa comunidade judaica no tempo de segunda Guerra Mundial, viveu o terror do nazismo. Essa mulher viu seu filho de 3 anos sendo tirado de seu colo e depois assassinado, apesar de lamentar sua sorte, ajudou jovens, crianças abandonadas, famintas e sendo caçadas pelos nazistas, escondeu eles em seu alojamento, com risco serem descobertos e ela sofrer mais ainda pelo seu ato heroico. Muitos anos depois, Luba Gercak foi homenageada em Amsterdã em reconhecimento.

Fico tranquilizado em saber que apesar das guerras, sofrimentos abrasadores existiram e existem anjos como a Luba Gercak, seriam infindáveis crônicas comprovando. No nosso Brasil podemos ficar deitados em berços esplêndidos?... talvez sim, ou talvez não, sempre esse “talvez” indefinido, porque de repente podemos receber a notícia assim:

--- viemos tomar conta dessa Amazônia imensa! Nós brasileiros responderemos:

--- vira essa boca pra lá, Vladimir Putin, ou também ao Xi Jinping. E nesse impasse terrível tivermos de depender dos americanos e recebermos deles a resposta fulminante:

--- nós também pretendemos tomar conta dessa Amazônia imensa!...

Aí, meus amigos, foi-se embora a pátria amada, idolatrada e os berços esplêndidos. Entraremos em outra história, queira Deus que não, porque ele é brasileiro, tomara que sim.