V E N T O - É BOM, MAS É RUIM
Tenho uma relação de extremos com o vento, com os vendavais.
De um lado, guardo na memória as mais vivas poesias tecidas pelo vento, desde aqueles que as trovoadas trazem, que dobram as árvores, que entortam os bambuzais, que destelham as casas e fazem medo, até aquele ventinho brando da beira mar, que refrescam o calor escaldante, que conduzem as velas dos barcos que cortam as águas, da forma mais tranquila e romântica que a natureza pode produzir.
Por outro lado, as trovoadas de verão me apavoram. Não pela chuva, nem pelos trovões, nem mesmo pelos relâmpagos e raios, e sim pelos ventos que podem vir e que leva minha imaginação medrosa a prever catástrofes de toda ordem.
Os finais de tarde dos meses de verão por si só me assustam. Toda tarde, de dia quente, as trovoadas são eminentes. E quando elas começam a ser formar, lá no oeste, ou no norte, com aquelas nuvem escuras se acumulando no horizonte, meu coração já começa a bater forte, o medo vai tomando forma e só volto ao sossego quando a trovoada chega e passa.
Coisa danada para se entender. Nem mesmo eu entendo, ou me entendo minimamente. Gosto do vendo e o temo extremamente. Sabem aquela história do que “é ruim, mas é bom”? Ou “é bom, mas é ruim”? Então, o vento incorpora essa máxima com todas as letras e no seu sentido mais singular.
É bom, muito bom, quando avisto o vento soprando brando e dobrando a capoeira, a vegetação baixa e viajo até a adolescência, lembrando da leitura encantada de Erico Veríssimo, quando dissertava sobre a viagem pelos campos gaúchos, em “Olhai os Lírios do Campo”. Sinto até o cheiro do lírio, que me lança aos finais das tardes lá no meu sítio, onde tem um ribeiro cercado de jasmim e quando está florido, exala um perfume que entorpece e produz poesia por si só.
Se venta mais forte, revoando folhas que despencam das árvores, lembrando a voz divina de Andrea Bucelli, cantando Hallelujah, que parece ir arrastando tudo para as alturas dos céus, arrebentando todas as emoções que seu canto me faz sentir.
Quando vento mais forte, tipo aquelas tormentas (pelo menos a impressão que meu medo me vende), quando não sei do que pode causar, das suas consequências, lembro das grandes paixões, daqueles amores que chegam arrebatando, quase arrebentando tudo e que não se sabe onde pode nos levar, das consequências que nos podem causar e sobre o que não temos o mínimo controle. É ficar atento, ligado, viver as emoções e deixar que a vida seja conduzida pela sua intensidade.
E tem o lado ruim. Ahhh se tem...
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