Memórias
No ambiente em que nasci não sei bem o meio em que habito.
Na memória nem tantas lembranças, apenas aquelas com mais sentido e significado.
Talvez, teria outra vida, quem sabe, se me lembrasse de tudo, desde a mais tenra idade.
Como seria minha vida se soubesse de tudo o que se passou comigo?
Minhas opiniões, meus medos, minhas culpas e alegrias nem se fossem as mais efêmeras.
Não consigo, até tento rebobinar meu HD cerebral, mas apenas surge o trivial.
Apenas aquilo que jamais esquecerei.
Queria me ver sentado no banco escolar, me escutar, me ver falar, observar as trocas de olhares, os gestos e desejos desde o meu primeiro segundo de vida.
Queria saber me compreender, desde muito cedo, para não errar quando mais tarde.
Banir-me, logo de início de hábitos preconceituosos, deixar a arrogância vendo-a se transformar em humildade, me construir com todos os alicerces da liberdade.
Queria saber, do meu livre arbítrio com zero ano de idade.
Minhas decisões seriam outras.
Certamente, não teria tempo para pensar o futuro, como aquelas questões. O que gostaria de ser? O que gostariam que eu fosse? O que não gostariam que eu fosse? E muito menos não daria ouvidos para: se eu fosse você?
Uma grande tragédia não ter podido me ver!
As vergonhas que passei; vendo o mundo que sonhei me açoitando, e ninguém ali para me ajudar.
Quais eram as conversas entre eu e meu ego, quais?!
Também queria ver meus próprios conselhos dirigidos a mim.
Quanta pena não ter acesso a tudo isso!
Hoje apenas, rememoro momentos instantâneos.
Mas, algo talvez de muita importância me trouxera até aqui.
Não sei exatamente o que é.
Pode ser algo chamado de - ato de reflexão. Não sei!
Porém, sei da minha existência pela reflexão sobre mim.
Talvez, se soubesse segundo a segundo o que passei, agora nesse momento, não teria nada a escrever. Não teria imaginação, se sei sobre tudo, imaginar o que?
Começaria a cada instante, novas vidas, por saber detalhadamente quem sou. Apenas um filme do presente para o futuro.
O que sou hoje se iniciou em acontecimentos passados. Na minha imaginação dos acontecimentos passados, na formação e relação com outros se constituindo em minha cultura.
Assim, talvez por ser um ser com pouca ou nenhuma ganância de humano, com pouca ou nenhuma influência da mentira da vida eterna, com pouca ou nenhuma opinião alheia sobre o mundo, hoje, o meu mundo se faz apenas críticas por detrás das pessoas e do mundo.
Minhas críticas são sobre tudo.
Críticas aos familiares, amigos, política e economia, tudo mesmo.
Contudo são apenas críticas por detrás.
Imagino cada ser humano, como eu.
Nascemos em um habitat e vivemos em um meio.
E que os tornam ou não seres de reflexão são os acontecimentos passados.
As influências sobre si do ambiente em que viveu e vive.
Contudo, acredito que há um momento de transformação.
De não mais ser o que é por aquilo que alguém lhe ensinou.
E sim, ser alguém por aquilo que realiza por conta própria.
Um ser que se arrisca na imaginação e que se desenvolve pelas emoções e experiências.
Pois, sem as emoções e experiências a razão não existiria - tão pouco eu existiria – pois, seria um ser de uma única história.
E, por fim, tudo que escrevi até aqui jamais escreveria com o mesmo sentido e significado, a cada nova linha, a cada nova palavra, tudo poderia estar completamente igual, mas seriam apenas frases construídas em palavras dicionarizadas, e o texto não passaria de ideias descomplicadas, racionais e sem a mínima condição de reflexão.
Poderíamos dizer um texto de uma personagem sem vida.