HUMBERTO DE CAMPOS
HUMBERTO DE CAMPOS APRESENTA NESTOR TANGERINI
Nelson Marzullo Tangerini
É necessário dizer que foi Humberto de Campos, o Conselheiro XX, quem apresentou Nestor Tangerini ao mundo literário.
Leitor do escritor maranhense, Tangerini enviou para Humberto o seu soneto “Cousas do Rio”, que, mais tarde, seu autor mudaria o título para “Cenas do Rio”.
Vendo no piracicabano (morador de Niterói) “algum talento”, publica-o na revista “A Maçã”, em 18 de março de 1922, ano em que acontece a tão polêmica Semana de Arte Moderna, liderada pelos amigos Andrades: Mário e Oswald.
Tangerini, em manuscrito, relata que foi a primeira vez que viu um texto seu publicado em letra de forma, em centro de página, numa revista. E que, a partir da publicação deste soneto, naquela tão conceituada revista, propriedade de Humberto de Campos, que a dirigia, resolveu prosseguir na vida literária, escrevendo mais sonetos, além de crônicas humorísticas ligeiras – à moda de Humberto.
Mais tarde, Nestor Tangerini apresentaria uma coletânea de sonetos satíricos, seus, que chamaria de “Humoradas...”, apresentada ao Acadêmico, que prometera fazer seu prefácio. Infelizmente, o consagrado escritor, que, na vida fora caixeiro e seringalista, veio a falecer, deixando Tangerini sem prefácio e sem seu primeiro apresentador.
E, desde então, a vida de Tangerini tomará outro rumo: encontrará acolhimento na Roda Literária do Café Paris, levado que fora por seu vizinho próximo, o poeta satírico niteroiense Luiz Leitão, cinco anos mais velho que ele.
“Cenas do Rio”, posteriormente, foi publicado em cartão, em estilo postal, em 1931, e seria distribuído ao público que assistiria à sua peça “Teu corpo é meu”, na porta do Teatro Rialto, onde se deu a apresentação do espetáculo.
A revista “Vida Nova’, também o publicou, na página 13, no Natal de 1943.
Em 2016, o soneto “Cenas do Rio”, com ares modernos - inclusive, iniciando uma oração com o pronome oblíquo “me”, anteposto ao verbo -, faria parte do livro “Humoradas...”, publicado, postumamente, pela Editora Autografia, do Rio de Janeiro.
Humberto de Campos Veras nasceu em Miritiba, Maranhão, no dia 25 de outubro de 1886, dois anos antes da Abolição da escravatura. Depois de ter vivido no Piauí e Pará, onde trabalhou duramente, o escritor mudou-se para o Rio de Janeiro, então Capital Federal, onde veio a se tornar conhecido como jornalista, até se tornar membro da ABL, Academia Brasileira de Letras.
Leitor de Coelho Neto, Alberto de Oliveira e Olavo Bilac, Humberto transitou, muitas vezes, entre Pré-Modernistas e Modernistas, não se fixando a essas correntes literárias.
Faleceu na Casa de Saúde Dr. Eiras, no dia 5 de dezembro de 1934, deixando uma vasta obra de grande valor literário.
Abaixo, publicamos uma crônica breve, de sua autoria, publicada em “O Brasil anedótico”, incluída na coleção “Nossos Clássicos – Humberto de Campos – Textos escolhidos, Editora Agir, Rio de Janeiro, RJ, 1979, que mostra bem a atualidade de seu textos:
“AS LEIS
D. José da Cunha Azeredo Coutinho, bispo de Pernambuco, falecido em 1821, foi um dos prelados mais ilustres que o Brasil tem possuído. Certo dia, falava-se sobre leis.
- As leis, meu filho... – fez o sacerdote.
E definiu:
- As leis são teias de aranha que servem para apanhar insetos, mas que se deixam romper pela pressão de qualquer corpo mais pesado!”
Estamos em 2022, em pleno governo autoritário, e nos deparamos, novamente, com cidadãos “pesados”, imbuídos da ideologia fascista, rompendo as teias da Constituição.