ESPELHO

Certo dia ela se pega imaginando com qual roupa sair.

Ela é uma mulher linda, e sabe disso mais do que ninguém (ela é uma mulher linda porque ela se conhece também por dentro).

Então ela veste a lingerie vermelha que comprou, o vestido sexy, seu salto de altura confortável, seus adereços (brincos, colares e anéis) e, por fim, seu perfume carregado de feromônio.

Logo se lembra de olhar uma última vez para o seu reflexo.

O espelho é amigo, mas pode falar duras verdades.

Ela se enxerga diferente e se pergunta o porquê da sua produção, pois ela já é uma linda mulher, não?

Seria vaidade? Luxúria? Que tal, medo?

Será que isso é medo de não ser desejada?

Será que só serei amada pela minha beleza física?

Eis a questao, como diria Shakespeare.

Então ela se pergunta: o que será de mim, quando de mim só restar a idade?

Os olhos ainda me acharão linda?

A felicidade de ser linda só vai até a 3° página, porque ser linda causa certa urticária quando se entende que o afeto pode ser pelo corpo, não pela alma.