MUDAR O MUNDO

“Pois aquele garoto que ia mudar o mundo, mudar o mundo, agora assiste a tudo em cima do muro” – Cazuza – Ideologia

 

Quando ouvi pela primeira vez essa música, pensei ao menos um outro garoto queria mudar o mundo, eu não era o único. Eu criança dizia que seria cientista e ia inventar uma pílula para ninguém morrer. O ideal infantil dá a noção do tamanho da vontade de mudar o mundo. Com o passar do tempo, fui entendendo o quão difícil era isso. No entanto, a história de homens como Da Vinci, Rosseau, Churchill, Roosevelt, Gandhi e Ford parecia mostrar que era possível.

 

Veio a juventude, como estudante de administração pensava nos grandes gestores da época Lee Iaccoca, Akio Morita pareciam mostrar que um administrador saindo do nada poderia mudar empresas e o trabalho. Note que o foco já era bem mais restrito, ao invés de figuras históricas já pensava em coisas mais próximas do mundo real.

 

Depois acreditei que a política mudaria tudo, o sonho cresceu. Era época das Diretas Já, da Constituição, dos protestos para derrubar Collor. Vivi o sonho da moeda estável e da social democracia, de um país forte e internacionalizado com FHC. Durou pouco, ao final o Brasil não parecia muito melhor. Veio Lula e vi que o país que ele propagandeava também não existia na realidade. Se já era ruim, sempre podia piorar, vieram Dilma, Temer e Bolsonaro para provarem. Gostem ou não, a verdade é que o mesmo percentual 80% de brasileiros pobres de minha infância permanece e nenhum dos que passou pelo governo mudou isso. Nada indica que mudará nas próximas eleições.

 

Talvez o problema seja o país, o mundo mudou mais do que aqui. Coreia do Sul, Australia e uns poucos países se desenvolveram, a China reduziu enormemente a pobreza, a maior parte da Europa se uniu, Alemanha e Japão viraram potências pacíficas, os americanos tiveram um presidente negro, acabou o apartheid na África do Sul, a comunicação por internet acabou com distâncias entre pessoas, algo melhorou.

 

No entanto, fica cada vez mais claro para mim de que a humanidade cresceu demais e que isso tornou as pessoas, quaisquer que sejam, pouco relevantes no conjunto. Mesmo gente como Mandela, Gorbachev, Steve Jobs, Obama e outros famosos pouco influenciaram em tudo isso, o mundo segue o fluxo de milhões de anônimos e não de pessoas individuais.

 

Mudar o mundo é um ideal impossível. Ainda que tenha de me conformar em não ser mais o garoto que ia mudar o mundo, não consigo aceitar minha irrelevância, menos ainda assistir a tudo de  cima do muro.

 

A solução que encontrei foi focar meu mundinho. Hoje penso em ser relevante para mim, minha família, amigos e uns poucos leitores. Tenho sonhos, vivo meus planos e tento implementar. Reajo como posso ao que me revolta, se há uma crise de combustível, uso transporte público e abasteço carro com etanol. Anulo o voto quando os candidatos são ruins. Dou esmolas ao menos a alguns, já que não vou acabar com a pobreza. Escrevo meus textos, publico aqui e envio para políticos ideias que acho que possam produzir mudança. Até hoje não deu resultado, é que nem bilhete da megasena, se não tentar, não ganha.

 

Funciona? Por incrível que pareça, para mim, sim. É um tipo de terapia, ao fazer essas coisinhas que não importam para quase ninguém, dentro da minha cabeça estou fazendo minha parte, agindo e mudando o meu mundo. Deixo para vocês refletirem a frase abaixo.

 

Se você mudar, o mundo muda com você. – Professor Gretz

 

Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 19/04/2022
Reeditado em 20/04/2022
Código do texto: T7498485
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