O texto
Queria escrever um texto. O melhor texto que um dia hei de escrever. Um texto que não fosse capaz de passar despercebido, que não deixasse ileso qualquer um que o lesse.
Queria escrever um texto que fizesse uma menina acamada sorrir, e a fizesse comentar com a sua enfermeira sobre aquilo que acabou de ler.
Que a enfermeira, ao atender sua nova paciente, recitasse meus termos para dar luz ao dia daqueles que já não tem esperança.
Que esse pequeno milagre fosse contado pelo grupo da família ao ponto de, mesmo em maio, a família já aguardasse com ansiedade o Natal para se reencontrar.
Um texto para que os amigos fossem lembrados. As dívidas fossem remidas. Os corações fossem abraçados e os olhos pudessem redescobrir a beleza da vida.
Eu queria escrever um texto que tivesse a capacidade de mudar o mundo. Os governantes. Os cidadãos. O Espírito e a carne.
Tudo isso, porque não consigo esquecer daquela menina acamada, que, apesar de tudo, insiste, persiste e no limiar da teimosia, ainda arranja espaço para me encher de esperança.