Será que sou um chato?
Passei muitas das minhas últimas horas pensando e torcendo para eu estar errado nesse meu modo de ver certas coisas. Já escrevi, nem sei mais onde, que vim ainda criança para a metrópole paulistana, e por virmos de uma cidade pequena do interior, inocentes, fomos vítimas fáceis de muitos vigaristas, que tantas vezes conseguiram tomar-nos o quase nada que tínhamos. Entre tantos enganadores incluíam-se os vendedores de enciclopédias de valor duvidoso, de títulos de clubes situados no Cafundó do Judas, de cotas de supermercados que nunca saiam do papel, não deixando de dizer que muitos desses vendedores também eram vítimas de criminosos, para quem acabavam trabalhando de graça, cuja justificativa para o não pagamento do trabalho era o não cumprimento de uma cota mínima de vendas. Tudo evolui e a vigarice não fica atrás, é sobre isso que quis dizer no começo do texto. Gostaria muito de estar errado quando analiso e vejo como picaretagem essa gama de cursos totalmente “gratuitos” que nos oferecem nas redes sociais. Tal qual as lábias dos vigaristas antigos, nos mostram com muita competência as maravilhas dos tais cursos. Algumas vezes o assunto me interessava e eu me inscrevi, depois vi que o conteúdo gratuito era apenas um jeito de mostrar o quanto se “perderia” se não comprasse a continuidade. Não estou me referindo a cursos profissionalizantes ou ligados a artes, etc., que certamente devem ter também os seus poréns, mas a alguns relativos a algum tipo de fé. Eles começam como gratuitos e depois te apresentam a parte sensacional que é pago. O “pulo do gato” será ensinado no conteúdo que você pagou. Protelam, camuflam o quanto possível o valor a ser pago. Acho muito engraçado, gargalho de verdade, quando, diante do meu silêncio, eles oferecem um desconto, cujo valor eu não pagaria se fosse o valor total. Quem sabe são sérios e o chato sou eu, o problema é que só consigo ver a fé como dom gratuito, onde nada relativo a ela combina com a exigência de qualquer forma de pagamento.